Pesquisadores do Montefiore Einstein Comprehensive Cancer Center (MECCC), do Albert Einstein College of Medicine, nos Estados Unidos, em parceria com instituições do Japão e da Suécia, descobriram que o glioblastoma — o tipo mais letal de câncer cerebral — não se limita ao cérebro. Segundo estudo publicado na revista Nature Neuroscience na última sexta-feira (3), a doença também corrói o crânio, altera a composição da medula óssea e afeta o sistema imunológico, reforçando a tese de que se trata de uma condição sistêmica.
O glioblastoma é altamente agressivo e de rápido desenvolvimento. Mesmo com tratamento padrão — que inclui cirurgia, quimioterapia e radioterapia — a expectativa de vida média dos pacientes é de apenas 15 meses após o diagnóstico, segundo o Instituto Nacional do Câncer dos EUA.
“Nossa descoberta de que esse câncer cerebral notoriamente difícil de tratar interage com o sistema imunológico do corpo pode ajudar a explicar por que as terapias atuais — todas elas lidando com o glioblastoma como uma doença local — falharam”, afirmou o pesquisador Jinan Behnan, do MECCC.
Como o câncer age no organismo
Utilizando técnicas avançadas de imagem, os cientistas analisaram camundongos com dois tipos distintos de glioblastoma. Ambos causaram erosão nos ossos cranianos, especialmente nas regiões de junção. Ao comparar tomografias de pacientes humanos com as dos animais, foi observada redução na espessura craniana nas mesmas áreas cerebrais.
As erosões aumentaram o número e o diâmetro de canais entre o crânio e o cérebro. A hipótese dos pesquisadores é que essas aberturas permitem que o tumor interaja com a medula óssea craniana, onde se formam células do sistema imunológico.
Menos defesa, mais inflamação
Por meio do sequenciamento de RNA de célula única, os cientistas identificaram que o contato do glioblastoma com a medula óssea altera o equilíbrio das células imunológicas. Há aumento de células inflamatórias, como neutrófilos, e redução de células B, essenciais para o reconhecimento e combate a tumores.
O processo ocorre em duas regiões da medula óssea: no crânio, onde o câncer ativa genes inflamatórios, e no fêmur, onde desativa genes responsáveis pela produção de células de defesa. Essa atuação em diferentes partes do corpo reforça a visão de que o glioblastoma é uma doença sistêmica.
“Isso indica a necessidade de tratamentos que restaurem o equilíbrio normal das células imunes na medula craniana de pessoas com glioblastoma. Uma estratégia seria suprimir a produção de neutrófilos e monócitos pró-inflamatórios e, ao mesmo tempo, restaurar a produção de células T e B”, explicou o coautor do estudo, E. Richard Stanley.
Testes com medicamentos
A equipe testou dois medicamentos usados no tratamento da osteoporose — ácido zoledrônico e denosumabe — com o objetivo de impedir a corrosão do crânio. Embora tenham sido eficazes nesse aspecto, o ácido zoledrônico acelerou o crescimento do tumor em um dos tipos de glioblastoma. Além disso, ambos prejudicaram a ação de um imunoterápico utilizado para estimular o sistema imunológico a combater o câncer.
Os pesquisadores destacam que os resultados reforçam a necessidade de desenvolver novas estratégias terapêuticas. “Esperamos que nossa descoberta leve a melhores estratégias de tratamento”, concluiu Behnan.
Com informações do Metrópoles