Pavor dos estudantes do ensino médio, o vestibular poderá acabar ainda neste ano nas instituições federais. Mas os alunos não deixarão de ser testados: no lugar da prova tradicional, um novo modelo, com quatro áreas do conhecimento e uma redação. A proposta foi apresentada oficialmente na quinta-feira pelo Ministério da Educação à Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e será oficializada em documento na segunda-feira. O ministro Fernando Haddad afirmou que deseja ver o exame aplicado já no fim de 2009, mas admitiu que as discussões sobre o projeto poderão adiá-lo.
Se as federais aderirem ao projeto, o estudante não vai precisar fazer várias provas nem se deslocar pelos estados. Assim como ocorre nos Estados Unidos desde 1900, o aluno fará uma prova apenas e tentará ingressar no curso e no estabelecimento de ensino superior escolhidos. Como a proposta será discutida com a Andifes, ainda não foi definido como será o peso das notas de acordo com a área de conhecimento.
Como têm autonomia, as universidades não podem ser obrigadas a abandonar as seleções tradicionais para aderir ao novo modelo. Em duas semanas, os reitores vão discutir a proposta do MEC durante a plenária da associação. O presidente da Andifes, Amaro Lins, não quis adiantar se é favorável, pessoalmente, ao projeto, alegando que ainda está em fase embrionária. Mas afirmou que em Pernambuco as três federais adotaram o vestibular unificado e que a experiência deu certo. ?Não vejo nenhuma objeção ao projeto?, afirmou.
O exame, segundo Haddad, vai combinar o que deu certo no vestibular e no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem). De um lado, a força do conteúdo, explorada na forma de ingresso tradicional. De outro, o estilo de perguntas da prova feita pelos estudantes do 3º ano do ensino médio. O ministro acredita que uma nova forma de ingresso poderá mudar o currículo dessa etapa da educação. ?Queremos um ensino médio que explore a capacidade de raciocínio, promova mudanças mais voltadas à especulação científica, e seja menos voltado para a memorização ou mero caráter informativo?, explicou.

O novo modelo seria a consolidação das políticas de reformulação do ensino médio, que incluem o acesso gratuito ao livro didático, à merenda e ao transporte escolar, à reforma do Sistema S e a expansão do bolsa família para estudantes de até 17 anos. ?Tudo isso está sendo muito bem-feito. Ocorre que, se não forem revistos os processos seletivos, não vamos atingir a qualidade que queremos?, defendeu Haddad.
Renovação
Para o ex-reitor da federal de Pernambuco Mozart Neves Ramos, é importante repensar o modelo do vestibular, que, para ele, está falido. Porém, o presidente do movimento Todos pela Educação acredita que será necessário fazer muitas adaptações. ?Esse exame poderia ser igual para a primeira etapa da seleção. Já a segunda etapa seria de acordo com cada instituição, observando a peculiaridade de cada área?, diz. Ele também sustenta que uma experiência prévia em algumas instituições poderia ser feita, antes da adesão total. ?Começar, por exemplo, pelas federais recém-criadas?, sugere.
Os estudantes Eduardo Lassance, de 20 anos, Pedro Cordeiro, de 19, Ludmilla Guedes Xavier, de 21, e Gabriela Maria Lobo, de 20, têm dúvidas sobre as vantagens da proposta para os alunos. Pedro teme que o nível da seleção caia muito e a disputa por algumas faculdades seja bem maior. Eduardo não acredita que o Enem seja uma boa base para a nova prova, por conta do nível de dificuldade da avaliação.

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