Maria Regina de Jesus, de 50 anos, estava só esperando o corpo de seu marido, Anderson de Melo, de 48, ser liberado pelo Instituto Médico Legal (IML) para tentar dormir. Ela passou a noite na igreja Missionária Pentecoste de Fogo, onde ocorre, na manhã desta quinta-feira (28), o velório de seu esposo, em Belo Horizonte.

Assassinado por um delegado da Polícia Civil após uma discussão de trânsito, Anderson está sendo velado no bairro Santa Terezinha, na região da Pampulha, na capital.

Mesmo cansada e de olhos inchados, Maria de Jesus reuniu forças para abraçar e acolher amigos e familiares que vieram prestar as últimas homenagens ao marido. “Foi uma covardia muito grande o que o delegado fez com a minha família. Está doendo muito e, com certeza, vai ser difícil passar por isso, agora que a ficha da gente está caindo”, diz. “O provedor da casa era ele”, prossegue, ao pensar que terá que cuidar sozinha dos dois filhos pequenos do casal.

O motorista de reboque foi morto pelo delegado de Polícia Civil Rafael Horácio, na última terça-feira (26), na avenida do Contorno, perto do Viaduto Oeste. O tiro acertou o pescoço de Anderson, que foi levado ao Hospital João XXIII, passou por um procedimento cirúrgico, mas não resistiu e morreu.

Horácio, por sua vez, usava um carro descaracterizado da Polícia Civil e descreve que foi fechado pelo caminhão que Anderson conduzia algumas vezes, o que teria motivado uma briga de trânsito. Ao se entregar à polícia, o delegado alegou legítima defesa e a corporação não o prendeu por entender que “não havia elementos jurídicos” para isso.

Quem fez isso já está solto e meu marido vai hoje para debaixo da terra. É um absurdo”, retoma Regina. “O delegado alegou que meu marido teria fechado ele no trânsito. Anderson não era disso, conheço o caráter do meu marido. Queria que mostrassem a marca da batida de carro que ele [Rafael Horácio] está alegando. Cadê essa marca? E, ainda assim, se teve uma batida, não era motivo para ele ter matado meu marido“, critica a viúva.

Maria de Jesus se diz inconformada com a situação. “O delegado tem família. E se tivessem feito isso com a família dele? E se fosse o Anderson a atirar nele e o matar, como seria? Eles teriam ouvido meu marido e o liberado em seguida? Acho que não. A corda arrebenta sempre para o lado dos mais fracos”, lamenta.

Enterro será no cemitério de Igarapé, na região metropolitana

O velório de Anderson de Melo acontece em dois locais na Grande BH. Na parte da manhã,  familiares podem se despedir do motorista de reboque na Igreja Missionária Pentecoste de Fogo, até as 10h. Depois, o corpo segue para a cidade de Igarapé, na região metropolitana, onde será velado e enterrado às 15h. Colegas de profissão de Anderson prometem seguir em carreata até o cemitério municipal de Igarapé.

 

Fonte: O Tempo

 

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