O novo medicamento que começa a ser usado nos Estados Unidos, na Europa e em outras partes do mundo contra a hepatite C, o sofosbuvir, promete ser uma mudança de paradigma no tratamento da doença. Para usar a droga, contudo, os pacientes estão tendo que vencer uma alta barreira: o preço.
Nos Estados Unidos, por exemplo, uma única pílula custa US$ 1.000. Todo o tratamento sai por cerca de US$ 84 mil (aproximadamente R$ 191 mil).
?O custo do tratamento é mais ou menos equivalente ao das alternativas já existentes, com a vantagem de o novo medicamento ter uma taxa de eficácia muito mais alta?, afirma Norton Oliveira, gerente geral da Gilead Sciences Brasil, empresa fabricante do remédio. Enquanto o tratamento atual, à base de interferon, tem taxa de eficácia em torno de 60%, o novo medicamento traz a cura para mais de 90% dos pacientes.
O novo remédio ainda não está disponível no Brasil, mas, segundo o fabricante, essa situação pode estar próxima de mudar. ?Nós estamos em negociações avançadas com Ministério da Saúde para saber como o medicamento pode ser incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS). Existe um interesse genuíno (do órgão) em lançar novo protocolo clínico de tratamento da doença, e o medicamento casa com isso?, revela Oliveira. A assessoria de imprensa do ministério, no entanto, não deu detalhes da negociação, limitando-se a informar que a ?conversa? existe, mas ainda é informal.
Revolução
As novas drogas para o tratamento da hepatite C estão sendo vistas por especialistas como um divisor de águas. ?O interferon, que atua no sistema imunológico da pessoa, é uma injeção aplicada a cada sete dias por 48 semanas. Ele é associado a mais dois medicamentos, e causam efeitos colaterais importantes como fraqueza, perda de peso, diminuição de leucócitos e plaquetas no sangue, entre outros?, explica João Galizzi Filho, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia.
?Os efeitos colaterais (dos tratamentos atuais) são um problema sério: muitas vezes, o paciente é obrigado a parar de tomar a medicação por causa deles. Essa é também uma razão para a baixa taxa de eficácia: as pessoas tinham intolerância ao remédio e tinham que interromper o tratamento?, acrescenta o médico Agnaldo Soares Lima, coordenador de transplantes de fígado do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Já os novos tratamentos são feitos com uma pílula por dia, durante 12 semanas, sem efeitos colaterais importantes. ?São medicamentos muito promissores?, diz Galizzi Filho.
Segundo a empresa, o medicamento deve ser submetido na próxima semana à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para que se inicie o processo de registro da droga. Esse processo pode chegar a durar até dois ou três anos, mas a expectativa é conseguir encurtar o prazo. ?A solução médica para a hepatite C já está aí. Basta garantir o acesso a ela?, afirma o ultrassonografista Rogério Augusto da Silva.
Resposta
Regras O Ministério da Saúde esclarece que a inclusão dos medicamentos no SUS obedece às regras da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec).
Comprovação Para aprovar uma nova tecnologia, a Conitec exige documentos que comprovem evidência clínica consolidada, eficácia, eficiência e custo-efetividade do produto.
Solicitação O pedido de incorporação de um medicamento pode ser feito pela empresa fabricante, por um paciente ou entidade civil.
Transplantes Cerca de 20% dos pacientes de hepatite C desenvolvem uma inflamação no fígado que evolui para cirrose hepática. Essa é a principal causa de transplantes de fígado no país.