Numa manhã de domingo, há quase 10 anos, o Brasil acordava com a notícia de um incêndio trágico na boate Kiss, em Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul. Ao todo, 242 pessoas morreram e mais de 600 ficaram feridas na tragédia, que completa uma década nesta sexta-feira (27).

Situação atual

Os quatro réus no processo, dois sócios da boate e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, chegaram a ser condenados por um júri no final de 2021. No entanto, o Tribunal de Justiça anulou as condenações e determinou a realização de um novo julgamento.

Eles respondem por 242 homicídios consumados e 636 tentativas de homicídio:

  • Elissandro Callegaro Spohr, sócio da boate
  • Luciano Augusto Bonilha Leão, produtor e auxiliar da banda
  • Mauro Lodeiro Hoffmann, sócio da boate
  • Marcelo de Jesus dos Santos, músico da banda

Atualmente, o processo está na Secretaria da 1ª Câmara Criminal para diligências. Depois da conclusão dessa etapa, o caso será encaminhado para a 2ª Vice-presidência do TJ analisar se admite os recursos especial e extraordinário movidos pela acusação e pelas defesas.

Um recurso pede a retomada do julgamento na 1ª Câmara, enquanto o outro quer a prisão provisória dos réus. Se os recursos forem admitidos, eles seguirão para análise das instâncias superiores, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Supremo Tribunal Federal (STF), que vão decidir se aceitam ou não os pedidos.

Foto: Reprodução/RBS TV

Linha do tempo

  • 27 de janeiro de 2013: incêndio atinge boate

O acendimento de um artefato pirotécnico provoca um incêndio na casa noturna, deixando 242 mortos e mais de 600 feridos.

  • 28 de janeiro de 2013: prisão dos suspeitos

Um dia após o incêndio, a Justiça decretou a prisão temporária de Elissandro Spohr, Mauro Hoffmann, Luciano Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos.

  • 29 de janeiro de 2013: bloqueio de bens

Foi autorizado o bloqueio de bens de sócios e da boate Kiss. Cerca de uma semana depois, cinco imóveis e uma conta com cerca de R$ 500 mil foram bloqueados, conforme a Defensoria Pública.

  • 1º de março de 2013: prisões preventivas

A Justiça revogou a prisão temporária e decretou a prisão preventiva dos quatro suspeitos pelo incêndio que atingiu a boate Kiss.

  • 22 de março de 2013: 16 indiciados

Nove pessoas, entre sócios e funcionários da boate e integrantes da banda, além de um bombeiro, foram indiciadas por homicídios com dolo eventual qualificado contra as vítimas. Quatro servidores públicos foram indiciados por homicídios culposos, além de dois bombeiros e um ex-sócio da boate por fraude processual.

  • 2 de abril de 2013: 8 denunciados

Oito pessoas foram acusadas criminalmente pelo Ministério Público, quatro delas por homicídio doloso qualificado e tentativas de homicídio, duas por fraude processual e duas por falso testemunho.

  • 3 de abril de 2013: acusados viram réus

O juiz da 1ª Vara Criminal de Santa Maria, Ulysses Louzada, aceitou na totalidade a denúncia do MP contra oito pessoas.

  • 29 de maio de 2013: réus são soltos

A Justiça do Rio Grande do Sul decidiu conceder liberdade provisória aos quatro presos por envolvimento no incêndio da boate Kiss. Eles passam a responder ao processo em liberdade.

  • 3 de junho de 2013: Justiça separa processos

O processo contra os oito réus foi dividido em dois, um para os quatro acusados de homicídio doloso e outro para os acusados de fraude processual e falso testemunho.

  • 18 de julho de 2013: inquérito contra prefeito é arquivado

O inquérito policial que responsabilizava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer, foi arquivado.

  • 27 de janeiro de 2014: homenagens um ano depois

No dia em que o incêndio completou um ano, familiares, amigos e sobreviventes fizeram uma série de homenagens às vítimas.

  • 5 de dezembro de 2014: nova denúncia

MP denunciou 43 pessoas por crimes como falsidade ideológica, fraude processual e falso testemunho. Acusações tiveram como base inquérito policial que investigou falsificação de assinaturas e outros documentos para a abertura da boate.

  • 4 de maio de 2015: cartazes contra promotor

A Justiça determinou a remoção de cartazes colados na fachada da boate com críticas ao promotor Ricardo Lozza. Ele fiscalizou a boate antes do incêndio, após reclamações de poluição sonora.

  • 3 de junho de 2015: bombeiros condenados

Dois bombeiros foram os primeiros condenados em processos relacionados ao incêndio. A Justiça Militar considerou os agentes culpados por inserção de declaração falsa na assinatura e emissão do segundo alvará que liberava a Kiss para funcionamento.

  • 1º de setembro de 2015: nova condenação de bombeiro

Um major do Corpo de Bombeiros foi condenado a seis meses de detenção pelo crime de fraude processual na Justiça comum. Nos dias seguintes à tragédia, ele teria inserido no arquivo da boate documentos que não faziam parte do plano de prevenção contra incêndio da casa noturna.

  • 2 de setembro de 2015: MP denuncia pais de vítimas

Três familiares de vítimas do incêndio foram denunciados crime de calúnia contra o promotor Ricardo Lozza.

  • 27 de julho de 2016: Justiça determina júri

Os quatro réus do processo criminal serão julgados em julgamento popular, conforme determinação do juiz Ulysses Fonseca Louzada.

  • 5 de outubro de 2016: bombeiro absolvido

O Tribunal de Justiça Militar (TJM) absolveu um militar e reduziu a pena de outros dois investigados pela concessão de alvará à boate Kiss.

  • 23 de março de 2017: recursos negados

O Tribunal de Justiça negou os recursos dos réus contrários à realização do júri. Por outro lado, os desembargadores também decidiram retirar as qualificadoras do crime, de motivo torpe e meio cruel.

  • 1º de dezembro de 2017: Justiça desconsidera dolo

Nova decisão definiu que os réus não seriam julgados por votação popular, já que o crime doloso, ou seja, intencional, foi desconsiderado.

  • 18 de junho de 2019: STJ reenvia réus a júri

A 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu mandar os acusados pelo incêndio na boate Kiss ao julgamento popular.

  • 14 de outubro de 2019: Justiça marca júris

O júri dos réus pelo incêndio foi dividido. Em março de 2020, seriam julgados Marcelo de Jesus e Mauro Hoffmann. Já em abril, Elissandro Spohr e Luciano Bonilha.

  • 17 de dezembro de 2019: júris unificados

A 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça determinou a unificação dos júris contra Marcelo, Mauro e Luciano. Além disso, o caso contra Elissandro foi enviado para Porto Alegre.

  • 12 de fevereiro de 2020: desaforamento para Porto Alegre

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul concedeu o pedido de desaforamento para mais dois réus, Marcelo e Mauro. Os dois seriam julgados em Porto Alegre em vez de Santa Maria.

  • 12 de março de 2020: STJ suspende júri

O ministro do STJ Rogerio Schietti Cruz decidiu suspender o julgamento de Luciano Bonilha até a análise do desaforamento.

  • 10 de setembro de 2020: júris em Porto Alegre

Os quatro réus no caso do incêndio da boate Kiss serão julgados em um único júri, em Porto Alegre, após decisão tomada pela 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça.

  • 18 de setembro de 2020: bombeiros condenados novamente

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul aceitou recurso do Ministério Público e condenou dois bombeiros pela concessão irregular de alvará à boate.

  • 5 de abril de 2021: júri é marcado

O júri dos quatro réus pelo incêndio da Boate Kiss foi marcado para o dia 1º de dezembro, em Porto Alegre, a partir das 9h.

  • 3 de novembro de 2021: sorteio dos jurados

Justiça realiza primeiro sorteio de jurados. Novas definições ocorrem nos dias 17 e 24 de novembro.

  • 1º de dezembro de 2021: júri começa

Julgamento popular dos quatro réus começa com sessões diárias, das 9h às 2h, inclusive durante os finais de semana. Juiz Orlando Faccini Neto preside audiências.

  • 2 de dezembro de 2021: emoção de sobreviventes

O segundo dia de julgamento terminou marcado por discussões ásperas entre promotores e advogados e até uma intervenção mais veemente do juiz. Também teve o primeiro depoimento de uma testemunha no processo, além de três sobreviventes.

  • 4 de dezembro de 2021: ‘filme de terror’

Ao longo dos dias, diversos sobreviventes foram ouvidos. Uma das testemunhas relatou ter vivido “um filme de terror” dentro da boate no dia do incêndio.

  • 5 de dezembro de 2021: emoção de sobrevivente

O depoimento do sobrevivente Delvani Brondani Rosso, de 29 anos, emocionou os jurados. “Quando eu fui caindo, eu fui me despedindo… da minha família, dos meus amigos”, disse, mostrando cicatrizes de queimaduras.

  • 8 de dezembro de 2021: Elissandro depõe

O primeiro réu foi interrogado no júri. O sócio da boate Elissandro Spohr se emocionou ao depor. “Eu virei um monstro de um dia para o outro”, disse.

  • 9 de dezembro de 2021: demais réus depõem

O 9º dia do júri marcou o fim dos interrogatórios dos réus. Luciano Bonilha Leão, Mauro Hoffmann e Marcelo de Jesus dos Santos foram ouvidos.

  • 10 de dezembro de 2021: condenação e habeas corpus

Após 10 dias de julgamento, os quatro réus pelo incêndio foram condenados a penas de 18 a 22 anos e meio de prisão. No entanto, o desembargador Manuel José Martinez Lucas concedeu um habeas corpus preventivo aos acusados.

  • 14 de dezembro de 2021: prisões determinadas

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, aceitou o recurso MP pedindo a suspensão do habeas corpus aos condenados. Dois réus já foram presos no mesmo dia. Os outros dois foram presos no dia seguinte, um em Santa Catarina e outro no RS.

  • 3 de agosto de 2022: júri anulado

A 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça acolheu parte dos recursos das defesas e anulou o júri que condenou os quatro réus – todos soltos. Dessa forma, um novo júri deve ser marcado. Familiares reagem: “é inacreditável”.

  • 5 de agosto de 2022: juiz comenta nulidade

Dois dias depois da anulação do júri, o juiz Orlando Faccini Neto se manifestou sobre a decisão. O magistrado que presidiu o julgamento deu sua versão sobre supostas reuniões suas com os jurados, uma das nulidades apontadas.

Fonte: G1

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