As delegações diplomáticas da Rússia e da Ucrânia iniciaram nesta segunda-feira (28), as primeiras negociações pela paz. As informações são da agência de notícias bielorrussa Belta.

“Rússia e Ucrânia estão mantendo as primeiras conversações”, afirmou a Belta. Antes do início da reunião, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pediu aos russos um cessar-fogo “imediato” e a retirada de suas tropas.

Antes do início da reunião, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pediu aos russos um cessar-fogo “imediato” e a retirada de suas tropas.

As conversas entre os dois países ocorrem depois que as tropas russas enfrentaram forte resistência ucraniana e após as sanções em massa impostas à Rússia pelas potências ocidentais.

Do lado russo, a missão diplomática é liderada pelo conselheiro do Kremlin, Vladimir Medinski. A Ucrânia enviou seu ministro da Defesa, Oleksii Reznikov, que chegou vestido com uniforme militar.

“Podem se sentir completamente seguros”, declarou o ministro bielorrusso das Relações Exteriores, Vladimir Makei, ao recebê-los.

Para a Ucrânia, “a questão-chave é um cessar-fogo imediato e a retirada das tropas (russas) do território ucraniano”, disse a Presidência ucraniana nesta segunda-feira. 

Essas conversas acontecem em uma das residências do presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, na região de Gomel, perto da fronteira com a Ucrânia.

Sem vitória contundente 

No campo de batalha, os ucranianos parecem aumentar a capacidade de resistência diante dos russos, que não conseguem anunciar nenhuma vitória contundente. 

Nesta segunda-feira, as autoridades ucranianas afirmaram que os russos tentaram durante várias oportunidades durante a madrugada um ataque contra a capital, sem sucesso. 

Kiev permaneceu sob rígido toque de recolher no fim de semana, que terminou às 8H00 GMT (5H00 de Brasília). 

Longas filas eram observadas do lado de fora de supermercados, com a população exausta. Nas ruas, brigadas de voluntários com fitas das cores do país (azul e amarelo) instalaram barricadas improvisadas.

O exército russo afirmou que os civis podem sair “livremente” de Kiev e acusou o governo ucraniano de utilizá-los como “escudos humanos”.

De acordo com o Estado-Maior da Ucrânia, Moscou “desacelerou o ritmo da ofensiva”. 

A presidência ucraniana afirmou que a cidade de Berdiansk, no Mar de Azov, está “ocupada” e o exército russo afirmou que cercou a a localidade de Kherson, mais ao oeste do país. 

As duas cidades ficam próximas da península da Crimeia, que a Rússia anexou da Ucrânia em 2014 e a partir da qual iniciou uma de suas várias forças de invasão.

O balanço do conflito continua incerto. A Ucrânia informou que 200 civis e dezenas de militares morreram desde quinta-feira, incluindo 16 menores de idade. 

A ONU registrou 102 mortes de civis, incluindo sete crianças, e 304 feridos, mas advertiu que os números reais podem ser “consideravelmente” maiores.

O presidente russo, Vladimir Putin, afirma que as ações russas são necessárias para defender os separatistas pró-Moscou do leste da Ucrânia. Os insurgentes enfrentam o governo ucraniano há oito anos, um conflito que já provocou 14.000 mortes.

No domingo, a Rússia admitiu pela primeira vez que o país sofreu perdas humanas no conflito, mas não divulgou um balanço e insistiu que tem a “supremacia aérea” em toda Ucrânia. 

As negociações e o conflito estão marcados pela ameaça apresentada no domingo por Putin, que ordenou que as forças de dissuasão nuclear sejam colocadas em alerta máximo.

O governo dos Estados Unidos classificou a ordem de Putin como “totalmente inaceitável” e o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, chamou a atitude de Moscou de “irresponsável”.  

Fuga em massa

O êxodo continua e, segundo a Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) desde quinta-feira quase 500 mil pessoas fugiram para países vizinhos. A UE prevê que o conflito deixará sete milhões de deslocados. 

A maioria dos refugiados viajou para a Polônia, país vizinho que tem uma importante comunidade de imigrantes ucranianos, mas outros seguiram para Romênia, Eslováquia e Hungria. 

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, que é conhecido por suas posições contrárias aos imigrantes, flexibilizou as restrições contra os demandantes de asilo durante o fim de semana e na fronteira os húngaros tentaram confortar os deslocados, com refeições e ofertas de alojamento.

Na passagem de fronteira de Medyka, na Polônia, Katarzina Jasinska, de 25 anos, entregou um casaco a um ucraniano. “Chegaram sem nada e apenas com a roupa do corpo. Estavam fugindo e não tiveram tempo de pegar nada além do que estavam vestindo”, disse, com lágrimas, a técnica veterinária.

Em todo o mundo, centenas de milhares de pessoas se manifestaram no fim de semana com bandeiras ucranianas para rejeitar a invasão russa e, nas redes sociais, muitas pessoas mostraram seu apoio a Kiev com a bandeira ucraniana em seus perfis.

Moeda russa sofre desvalorização recorde

As sanções contra Moscou provocaram uma forte queda nos mercados russos e o rublo registrou forte desvalorização na abertura, o que forçou a suspensão das Bolsas. Para apoiar a economia nacional, o Banco Central da Rússia elevou a taxa básica de juros em 9,5 pontos, a 20%.

Além disso, o BC russo informou que a filial europeia do Sberbank enfrenta o risco de falência 

No plano político, os meios de comunicação estatais russos RT e Sputnik foram proibidos e ainda se aguarda uma resposta do Kremlin diante da escalada de sanções.

Uma consequência crucial do conflito é o impacto no preço do petróleo: tanto o barril do tipo Brent como o barril WTI operavam em alta diante do temor de crise energética.

A Assembleia Geral da ONU celebrará nesta segunda-feira uma sessão de emergência para discutir o conflito. A Casa Branca informou que o presidente Joe Biden conversará com aliados para discutir os “acontecimentos” em curso.

Em Genebra, o Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou a convocação de um debate urgente na quinta-feira, a pedido de Kiev e apoiado por uma ampla coalizão de países.

Fonte: O Tempo

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