Cientistas do Instituto Karolinska da Suécia, uma das mais respeitadas instituições de pesquisa do mundo, anunciaram na TV sueca que esperam obter uma vacina eficaz contra o vírus da Aids dentro de dois a três anos.
Os testes clínicos da vacina –fruto de um estudo iniciado há sete anos– mostraram que 97% dos 40 voluntários inoculados desenvolveram resposta imunológica contra o vírus HIV.
A vacina agora está sendo testada em 60 voluntários na Tanzânia, e os primeiros testes indicam a possibilidade de obter resultados semelhantes aos alcançados na Suécia.
Os resultados das fases 1 e 2 dos testes têm sido extremamente promissores, disse em entrevista à BBC Brasil a cientista Britta Wahren, responsável pelo projeto da vacina no Instituto Karolinska.
Durante os últimos 20 anos, cerca de 200 vacinas foram desenvolvidas em diferentes países, mas nenhuma conseguiu, até agora, obter resultados eficazes nos testes com humanos em larga escala.
Em setembro passado, foram suspensos os testes de uma vacina experimental que era considerada uma das mais avançadas, após falhas registradas nos resultados preliminares.
O estudo, conduzido pelo laboratório Merck em nove países, incluindo o Brasil, mostrou depois de 13 meses de testes que a vacina não conseguiu impedir a contaminação de voluntários com o vírus HIV.
Em princípio, diz Britta Wahren, os estudos para o desenvolvimento de vacinas contra o vírus HIV são semelhantes, mas a cientista aponta duas particularidades no projeto sueco: O vírus da Aids é um vírus cruel, que possui vários subtipos. Por isto, decidimos criar uma vacina contra vários tipos do vírus HIV.
Nossa vacina foi desenvolvida de forma a proteger as pessoas contra as variantes mais comuns do vírus em circulação na África e no Ocidente como um todo, explicou Wahren à BBC Brasil.
Outro diferencial é que a vacina é complementada por um segundo tipo de vacina, que aumenta a resposta imunológica do paciente. Este princípio foi demonstrado em diversos estudos pré-clínicos , acrescentou.
A vacina desenvolvida pelo Instituto Karolinska, em cooperação com o Instituto Sueco para Controle de Doenças Infecciosas (SMI), combina, portanto, dois tipos de vacinação.
Primeiro, o paciente recebe várias doses de uma vacina elaborada a partir de genes de diversas variantes do vírus HIV em circulação no mundo. Em seguida, é aplicada uma segunda vacina, destinada a ampliar a resposta imunológica.
Esta segunda vacina contém um vírus vaccinia – usado para erradicar a varíola – modificado e outros genes do vírus HIV. A segunda vacina foi produzida pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, e doada para utilização no estudo sueco.
No próximo ano, o estudo sueco entrará na chamada Fase 2-B, com os testes clínicos em larga escala.
Será uma fase crucial, com duração prevista de dois anos. A etapa final será a Fase 3, que vai determinar o grau de proteção da vacina.
Para Eva Maria Fenyö, do Departamento de Microbiologia e Virologia da conceituada Universidade de Lund, no Sul da Suécia, a vacina representa uma nova esperança para conter a propagação da Aids.
O estudo do Instituto Karolinska combina todo o conhecimento atual e tenta diferentes vias de administração da vacina, disse a pesquisadora à BBC Brasil.
As diferenças em relação à vacina desenvolvida pelo laboratório Merck são muitas, observa Fenyö.
Por exemplo, na vacina da Merck um vírus diferente (adenovirus) carregava os genes do HIV-1, e uma ou duas doses eram aplicadas. O estudo do Karolinska aplica três doses iniciais com diversos subtipos de vírus HIV-1, seguidas por uma segunda vacina destinada a reforçar a resposta imunológica, ressaltou a pesquisadora.
Contactado pela BBC Brasil, o Diretor Médico do laboratório Merck na Suécia, Roger Juhlin, não quis comentar o projeto sueco.
Todos nós temos esperanças de que uma vacina eficaz seja descoberta. Mas em nossa empresa, adotamos a prática de não comentar outros projetos desenvolvidos nesta área, disse Juhlin.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a Aids já provocou mais de 20 milhões de mortes, e hoje cerca de 40 milhões de pessoas são portadoras do vírus HIV no mundo – 70% delas no continente africano.
No Brasil, uma estimativa da Organização Mundial da Saúde feita em 2006 diz que cerca de 620 mil pessoas vivem com o HIV.

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