A droga K9, uma das mais procuradas nas bocas de fumo e na cracolândia de São Paulo (SP), já está em Minas Gerais. Proibido pelos chefões da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) devido ao “efeito zumbi” e a vários casos de overdose entre usuários, o entorpecente também já foi barrado por traficantes em ruas de BH, mas tem encontrado saída em vendas “programadas” e teria se espalhado no sistema prisional, por onde a substância também se infiltrou inicialmente até virar um grande caos social na capital paulista.

Durante duas semanas, o Super Notícia ouviu autoridades policiais, especialistas em segurança pública, usuários e fontes anônimas em aglomerados que confirmaram o avanço da venda e do consumo da K9 – também chamada de K2, K4 ou Spice – em território mineiro. A droga (originalmente líquida) chega aqui geralmente borrifada em papéis ou em ervas para ser fumada. Trata-se de um canabinoide sintético produzido em laboratórios clandestinos dentro e fora do Brasil e que provoca severas contrações musculares, alucinações, psicose, convulsões e até a morte.

Um traficante de um aglomerado na região Oeste de BH contou à reportagem que chefes do crime desistiram de vender a K9 após um “teste de qualidade” – realizado entre integrantes da facção – resultar em “piripaque” coletivo. “Quatro responsáveis por bocas de fumo da região usaram a droga para saber qual a ‘brisa que batia” para poderem descrever aos compradores. Só que a galera que experimentou passou muito mal: primeiro, eles ficaram paralisados e, depois, tiveram uma espécie de convulsão. Ninguém foi para o hospital, mas quase precisou. E chamar esse tipo de atenção não é bom pra nenhum traficante. A boca de fumo vira alvo da polícia por nada”, revelou a fonte, sob a condição de anonimato.

Mas, na avaliação do especialista em segurança pública Jorge Tassi, se o “crime” entender que essa droga é interessante financeiramente, ela acabará sendo ofertada e pode se alastrar. “Podemos ter um problema pandêmico, assim como é o crack”, alerta.

Vendida sob encomenda

Mesmo proibida por alguns traficantes, é possível encontrar a K9 para consumo em Belo Horizonte. Na região Oeste, pequenos pedaços de papel borrifados com o canabinoide sintético podem ser encomendados e chegam à casa do cliente em uma espécie de “delivery do tráfico”.

Segundo um vendedor ouvido pelo Super Notícia, também é possível que usuário e fornecedor marquem um ponto de encontro na cidade para que a droga seja entregue diretamente pelas mãos do traficante. “Para dar certo, a venda é programada. A pessoa encomenda a K9 e, na sequência, a droga chega para ela no local marcado. Desse jeito, se a pessoa passar mal, ela passa na casa dela ou no local reservado que ela escolheu pra sentir a brisa”, explica a fonte.

Não é maconha

Os canabinoides sintéticos são drogas criadas em laboratório para atingir os mesmos receptores cerebrais que a maconha natural, mas com efeito até cem vezes mais potente. “(Associá-la à maconha) é um marketing do mal para um produto devastador”, explica Jorge Tassi.

Flagrante

Uma das apreensões mais recentes de canabinoide sintético em BH ocorreu durante abordagem a um suspeito em uma estação de ônibus na região Nordeste. Segundo fonte ligada à investigação, a droga foi detectada borrifada em uma porção de ervas em um pino.

Apagão de dados

Apesar de todos os indícios que comprovam o consumo da K9 em território mineiro, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp-MG) afirma não ter dados consolidados sobre as apreensões do entorpecente. Segundo a pasta, “não há nos Registros de Eventos de Defesa Social (Reds) – antigo boletim de ocorrência – o filtro para apreensão de K9”.

Sem estatísticas oficiais para nortear a elaboração de políticas públicas contra o avanço da venda e consumo do canabinoide sintético, a Polícia Civil de Minas Gerais informou que “atua continuamente para combater o tráfico de drogas em todo o Estado, identificando operações criminosas e suspeitos responsáveis, a partir de um trabalho integrado com demais órgãos das Forças de Segurança”.

Fonte: O Tempo

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