Depois de reuniões com seis presidentes de partidos (RB, PSD, PSDB, PP, DEM e MDB ) nessa quinta-feira (4), o presidente Jair Bolsonaroconseguiu diminuir a tensão, mas não obteve dos líderes partidários a promessa de apoio incondicional à proposta de reforma da Previdência e nem de participarem da base de apoio do governo.

Ao deixar o encontro com Bolsonaro, os presidentes defenderam a reforma, mas apontaram pontos que desejam ver alterados, em especial as já conhecidas questões das mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC) e na aposentadoria rural.

 

O presidente do PSDB, Geraldo Alckimin afirmou que a reunião foi agradável, mas deixou claro que seu partido não fará parte da coalizão governista. “O PSDB tem uma postura de independência em relação ao governo, não há nenhum tipo de troca, não participaremos do governo, não aceitamos cargos no governo”.

O ex-governador de São Paulo disse ainda que o partido irá defender a reforma, mas não irá fechar questão. Votará pela proposta desde que alguns ajustes sejam feitos. Além do BPC e da aposentadoria rural, Alckmin afirmou que o PSDB não dará seu voto para aprovar nenhum benefício que fique abaixo do salário mínimo. “O PSDB tem compromisso com a reforma, mas dentro desses parâmetros”, afirmou.

Primeiro a ser recebido, o presidente do PRB, Marcos Pereira (SP), disse à Reuters que o partido se manterá independente, mas irá colaborar quando necessário, como na reforma da Previdência. “Eu não quero cargo, o partido não quer cargo. Eu quero é ser atendido. Não é questão de velha ou nova política, é uma questão de política. Os deputados vão levar demandas legítimas, precisamos de respostas, nem que sejam um não”, disse.

Pereira, que também é vice-presidente da Câmara, contou que a conversa foi boa e que Bolsonaro elogiou sua honestidade e disse que gosta de quem não vem com “blá blá blá”. Perguntado se as conversas irão ajudar o governo a resolver o problema de articulação, disse que depende da atitude do governo. “Vai depender se eles atenderem as demandas legítimas dos parlamentares”, afirmou.

Também sobre a reforma, Pereira afirmou que o partido defende a proposta, acha necessária, mas que alguns temas –como BPC e Aposentadoria rural– não podem ser votados como estão.

Segundo presidente partidário a ser recebido por Bolsonaro, Gilberto Kassab, do PSD, também disse que o partido não fechará questão, em respeito à posição pessoal de seus parlamentares e à tradição da sigla, mas apoiará o texto porque a reforma faz parte do programa do PSD. “O partido tem uma posição muito clara com a sua independência em relação ao governo, essa posição continuará”, disse Kassab.

O líder do partido no Senado, Otto Alencar (BA), explicou que o PSD também espera mudanças em relação ao BPC, aposentadoria rural e em relação a outra questão, a capitalização, ponto-chave da reforma para a equipe econômica liderada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

“A capitalização tem que ser um piso, e não pode ter capitalização sem contribuição patronal, não tem como”, defendeu o senador.

O DEM, que hoje já tem três ministros no governo  – Casa Civil, Saúde e Agricultura – , mesmo sem uma adesão formal, foi o que chegou mais perto de admitir que poderá fazer parte da base, posição defendida pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que participou de um almoço com Bolsonaro e o presidente do partido, ACM Neto.

“Ser base, formalmente ou não, é algo que pode acontecer, com absoluta naturalidade, no momento que houver uma deliberação da Executiva do partido. Mas eu entendo que a preocupação maior tanto do Democratas como do presidente Jair Bolsonaro não está na formalidade, em dizer ‘é base ou não é base’, e sim em garantir que esse diálogo possa ser produtivo e facilite o andamento da agenda de reformas”, afirmou Neto.

Presidente do MDB, Romero Jucá, também afirmou que o partido não quer ser parte da base.

“O MDB veio propor ao governo uma agenda econômica e social. O MDB não quer cargo e ministério”, afirmou. “O MDB não quer ser base, quer ter uma agenda.”

Também sobre Previdência, Jucá afirmou que o partido não planeja fechar questão em nenhuma votação, mas terá “posições firmes”, na Câmara e no Senado. Alguns pontos da reforma precisam ser mais discutidas, como as mudanças nas regras do BPC, aposentadoria rural e o sistema de capitalização.

Os presidentes foram unânimes em dizer que Bolsonaro não fez convites formais de adesão. As conversas se concentraram mais sobre o apoio à reforma da Previdência, mas portas foram abertas, disseram os líderes partidários.

A líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), afirmou que não é um problema nesse momento os partidos não fazerem parte da base do governo, mas sim o compromisso com a reforma da Previdência.

“Temos mais tempo para fechamento da base em outras questões. Nesse momento temos que fazer duas contas: uma que é a aprovação da nova Previdência, e aí vale qualquer partido, inclusive da oposição. E uma outra conta é a formação de uma base para aprovação de outras questões”, disse a líder do governo.

Já à noite, o ministro da Casa Civil,OnyxLorenzoni,  que participou dos encontros, disse que os presidentes e líderes de partidos foram convidados a participarem de um futuro conselho de governo, cuja ideia inicial é que se reúna a cada 30 dias.

Onyx disse que todos concordaram “que é o momento da gente passar por cima das nossas diferenças, passar por cima do que aconteceu no período eleitoral” e relatou que Bolsonaro se desculpou por eventuais erros.

“O presidente, com a sua humildade, se desculpou de uma canelada aqui, uma canelada acolá, e a gente vai construir sim uma coisa que é muito importante: unir todos os que são verde e amarelos a favor do Brasil”, disse o ministro a jornalistas.

Também à noite, Bolsonaro, em uma transmissão em uma rede social, agradeceu os líderes partidários pelos encontros e ressaltou mais uma vez que não houve negociação de cargos.

“Eu quero agradecer fervorosamente essas lideranças político-partidárias por esse momento que tivemos hoje”, disse Bolsonaro. “Nada foi tratado sobre cargos, nem por parte deles, nem por minha parte.”

Segundo o presidente, os líderes partidários “têm o perfeito discernimento de que querem colaborar, não com o governo, mas com o Brasil”.

 

 

Fonte: Exame ||

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