O derrame cerebral é a doença que mais mata no Brasil e é responsável por 40% das aposentadorias precoces. Especialistas de todo o mundo promovem, nesta terça-feira, o Dia Mundial do Acidente Vascular Cerebral (AVC), data definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para conscientizar a população. Segundo a OMS, 70% das pessoas que passam por um derrame se tornam incapazes para o trabalho. No ano passado, Minas Gerais foi o segundo estado em número de internações, com 22,5 mil casos. Em Belo Horizonte, dois hospitais públicos criaram unidades específicas para agilizar o atendimento oferecido aos pacientes. Quanto mais rápido for administrado o tratamento depois do derrame, maior a chance de evitar as seqüelas.
O derrame pode ocorrer de duas formas: quando há rompimento de uma vaso sangüíneo do cérebro, no caso o AVC hemorrágico, e quando há uma obstrução do vaso e conseqüente perda de oxigenação de área cerebral, o AVC isquêmico. O Hospital Universitário Risoleta Tolentino Neves da Universidade Federal de Minas Gerais (HRTN/UFMG), em Venda Nova, inaugurou este ano a Unidade de AVC, onde atende 80 pessoas por mês, por uma equipe multidisciplinar com mais de 20 profissionais. O Odilon Behrens, no Bairro São Cristóvão, na Região Noroeste da capital, também mantém serviço especializado há três anos, que recebe 120 pacientes/mês. Todos os casos de AVC socorridos pelo Serviço Móvel de Atendimento de Urgência (Samu) são levados para essas unidades.
Até o fim do ano, uma campanha deve ser feita nos centros de saúde, segundo o coordenador da Unidade de AVC do HRTN/UFMG, Romeu Sant?Anna. A idéia é que a população, ao sentir algum sintoma relacionado à doença, procure os serviços especializados do SUS, onde podem receber medicação para minimizar os danos causados pelo derrame. Entre os sintomas, estão doenças relacionadas à circulação sangüínea e a perda súbita de alguma função, como o movimento, a fala e a visão.
?Além de monitorar as pessoas para tentar evitar que elas tenham complicações como perda da fala, movimentos e visão, disponibilizamos psicólogos e assistentes sociais que fazem contato com a família para que o doente seja reintegrado à vida, mesmo com as limitações que a doença pode causar. Muitos ficam dependentes devido ao AVC. Facilitamos ainda a continuidade do tratamento, encaminhando os pacientes para centros de reabilitação?, afirma Sant?Anna, do Risoleta Neves.
Hemominas
A Fundação Hemominas atende pacientes com anemia falciforme, doença hereditária em que há mal funcionamento das hemácias, dificultando a circulação sangüínea, e um dos fatores de risco para o AVC. Segundo o neurologista Luiz Cláudio Romanelli, membro do Departamento de Doenças Cerebrovasculares da Academia Brasileira de Neurologia, o quadro agudo do AVC ocorre por complicações de outras doenças que interferem no sistema vascular, como hipertensão, diabetes, tabagismo, apnéia do sono, trombose venosa, embolia e anemia falciforme. O envelhecimento também está relacionado à doença. A chance de sofrer um derrame aumenta a partir dos 40 anos.
Angélica Simone Mercês Florença, de 28 anos, foi aposentada, pois teve um derrame devido à anemia falciforme. Ela mora em Bela Vista de Minas, a 124 quilômetros da capital, na Região Central do estado, e recebe transfusões de sangue todos os meses, além de passar por consultas com especialistas no Hemominas. ?Fiquei cinco meses sem me movimentar e falar. Na época, não sabia que tinha a anemia. Ainda sinto dores no corpo e tenho dificuldades de me mexer, mas, apesar das limitações, não deixo de fazer nada, até de dançar.?