Com história centenária, representando quase uma tradução culinária das Gerais, o queijo minas artesanal quer agora atravessar fronteiras, conquistar o mundo e mostrar seu valor em qualidade, sabor e tradição, seduzindo novos paladares.

Neste sábado (24), na presença de autoridades federais e estaduais, será anunciada em Belo Horizonte a candidatura dos “modos de fazer” a iguaria ao título de Patrimônio Imaterial da Humanidade, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Com o título, o queijo minas artesanal seria o primeiro bem cultural brasileiro associado à cultura alimentar inscrito na Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Nessa escalada, há dois importantes reconhecimentos, no país, que atestam a importância do produto: pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), em 2002, para o modo de fazer o queijo artesanal da região do Serro, no Vale do Jequitinhonha, e, em 2008, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que destacou o modo de fazer do queijo artesanal. No ano passado, o produto conquistou 40 medalhas no concurso internacional Mondial du Fromage et des Produits Laitiers (Mundial de Queijo e Produtos Lácteos), na França.

 

“Vamos conquistar o título, uai!”, diz, cheio de confiança, o secretário da Associação Mineira dos Produtores de Queijos Artesanais de Minas Gerais (Amiqueijo) José Ricardo Ozólio, também presidente da Associação de Produtores Artesanais de Queijo do Serro (Apaqs). Além da visibilidade internacional, o que permitirá valorização do produto e melhor colocação no mercado, ele chama a atenção para a importância do tírulo para as comunidades rurais. “É fundamental fixar o jovem no campo e dar-lhe oportunidade. Temos muitos recém-formados, em diversas áreas, de saúde a marketing, voltando para suas cidades e precisando trabalhar e ajudar as famílias. O reconhecimento internacional, sem dúvida, ajuda nesse caminho”, observa Ozólio.

A presidente do Iepha, Marília Palhares, vê muito trabalho pela frente, mas conta com a disposição e mobilização das comunidades produtoras, entidades públicas e associações locais. “Em resumo, o governo de Minas vai elaborar um dossiê e fazer um videodocumentário apresentando esse bem cultural, para encaminhamento ao governo federal, que, na sequência, realizará as tratativas em âmbito internacional”. O material subsidiará a candidatura a ser avaliada pelo Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Imaterial, da Unesco.

 

Famílias

Segundo dados da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), o modo artesanal de fazer o queijo envolve, atualmente, mais de 10 mil famílias em 10 regiões de destaque para o setor no estado, configurando uma cadeia produtiva de importância nas áreas dedicadas à atividade. “A mobilização dos produtores na salvaguarda desse bem cultural é um ponto de destaque para os órgãos que trabalham com o patrimônio cultural, tendo em vista o envolvimento contínuo em todas as etapas desde o início dos anos 2000. Sabemos que esse envolvimento será um elemento fundamental a ser considerado na avaliação que será feita pelo comitê”, ressalta a presidente do Iepha.

Na avaliação de Marília Palhares, os ganhos com o título serão significativos. “A projeção internacional, por meio da inscrição na Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, amplia as perspectivas de mercado e o acesso a direitos e melhorias, como financiamentos públicos e possibilidades de comercialização dos queijos, não só para o Brasil como para outros países.” Junto a isso, avalia, “contribui para o reconhecimento dos padrões de qualidade que vêm sendo experimentados e construídos ao longo do tempo, no contexto dinâmico de sua produção, comercialização e consumo, bem como para a promoção de Minas como estado que valoriza seu patrimônio, investindo na sua interpretação, preservação e qualificação”.

 

A presidente do Iepha lembra ainda que o queijo minas artesanal está presente no cotidiano e no imaginário dos mineiros desde o século 18. “A permanência dessa tradição até a atualidade e sua referência para a identidade de tantos grupos sociais de Minas são elementos significativos do valor patrimonial do modo de fazer o queijo minas artesanal.”

Candidatura

A proposta de reconhecimento será apresentada neste sábado, pela Associação Mineira dos Produtores de Queijos Artesanais de Minas Gerais (Amiqueijo) ao ministro do Turismo, Carlos Brito, durante o Festival do Queijo Artesanal de Minas, no Parque de Exposições da Gameleira. O evento vai até domingo.

Fonte: Estado de Minas

 

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