Os livros de história da civilização moderna ou contemporânea sempre iniciam com uma breve narrativa sobre como o homo sapiens povoou o planeta.  E esse tema hoje é repleto de polêmicas, com diversas teorias sobre as migrações de populações humanas que povoaram as américas.

De qualquer forma, todos os estilos ou teorias concordam que, desde os primórdios, o homo sapiens realizava procedimentos ritualísticos para sepultamento de cadáveres.

Estes rituais reportavam a algum tipo de referência espiritual para lidar com a morte. É possível, diante deste comportamento perante a morte, pensar que os homens tivessem referências espirituais para outros momentos mais festivos da vida como o nascimento, a hora de comer etc.

No caso das Américas, o fóssil humano mais antigo já encontrado foi o do Homem de Lagoa Santa, onde foi encontrado o crânio de Luzia. E uma coisa que os arqueólogos e paleontólogos sempre buscam apurar são os múltiplos atos de vida daquelas populações antigas.

Sabedores de que já naqueles primórdios havia uma “preocupação espiritual”, é absolutamente certo pensar que, em dias atuais, o homem, ou alguns deles, tenham viva essa questão da espiritualidade.

O respeito e harmonia entre as diversas formas de expressão contemporânea da espiritualidade é algo que ainda necessita de muitas garantias.

Na história recente das Américas, migrações humanas ocorridas nos séculos XV e  XVI promoveram uma forte ocupação do território americano com a rejeição de tudo que já existia aqui de espiritualidade e imposição de uma espiritualidade desenvolvida em um contexto cultural completamente distinto.

O respeito, reconhecimento da presença do outro e tolerância dos pensares e fazeres desse outro, não ocorreram na colonização. Os colonizadores chegaram e impuseram sua cultura e com ela sua religião.

O esforço de resistência dos povos originários da América invadida e da África, que sofreram a diáspora forçada, sendo ambos vítimas de escravização, trouxe aos dias de hoje expressões de espiritualidade que sofrem forte resistência do pensamento que se tornou dominante em razão da imposição colonialista.

E é por isso que foi necessário inscrever a proteção a estas formas de expressão da espiritualidade resistentes  na Constituição Federal, que, em seu artigo 5º diz que: todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza e confirma nos incisos VI, VII e VIII, que é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;  é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva e que ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Como Lei Magna, a CF declara como devem ser as coisas. Não diz que a realidade é assim. Por isso, há, a cada dia, o desafio de todos respeitarem as expressões de espiritualidades diferentes. O diferente não é melhor nem é pior. Não é bom nem é mau. Não é positivo nem negativo. Ele é apenas diferente. E deve ser respeitado. E sua expressão e proclamação precisam ser garantidas.

 

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