No Brasil vige um autêntico estado democrático de direito, onde todos têm direito ao devido processo legal, ser julgado por juiz imparcial, gozar assistência de um defensor, além de outros direitos.
O ambiente conturbado de violência vivido pelos brasileiros e as dificuldades no enfrentamento do crime geraram nas pessoas a ansiedade de encontrar formas mais eficazes de punir os criminosos e, uma minoria, defende a Justiça a qualquer preço, uma obsessão pelo punitivismo imediatista, desarrazoado e sem limites legais, com o descumprimento de direitos básicos garantidos a todos.
Para esses punitivistas os acusados já são previamente culpados, merecem apenas ser condenados, cumprir sentença, não podem sair da prisão, não se aceita decisões judiciais concessivas de sua soltura.
Nessa onda punitivista, os responsáveis primeiros pela punição, no caso os policiais e os juízes de primeiro grau, são idolatrados quando atendem aos pleitos populares de punir os crimes com rigor e agilidade. Nesse sentido, os tribunais, principalmente o Supremo Tribunal Federal (STF) não são bem vistos e nem entendidos pelos punitivistas, quando analisam recursos, principalmente quando definem pelo relaxamento de prisões ilegais.
Em uma ala ainda mais radical dos punitivistas, adora-se os policiais e gostaria que esses pudessem apurar, prender, julgar, condenar e executar a pena, com a maior celeridade possível. Dessa forma, entende estar sendo feita justiça mais efetiva e imediata. Infelizmente, esquece ser preciso ter instâncias diferentes para cada fase da punição (repressão, apuração, julgamento, condenação, execução da pena, etc.), com a finalidade de se evitar excessos contra os cidadãos. Não se pode, em nome de estar praticando justiça, cometer injustiças.
Na realidade, estamos em um Estado legalista, com leis a serem seguidas, onde a prisão de qualquer cidadão deve preencher requisitos legais, caso contrário, deve-se determinar a soltura do preso.
Justiça todos querem, inclusive eu, mas deve ser feita com o devido processo legal. As pessoas defensoras da aplicação da justiça sem obedecer a regras legais, serão as primeiras a gritar e pedir justiça quando uma pessoa de seu círculo íntimo for vítima de prisões arbitrárias, torturas, fuzilamentos, espancamentos, etc.
Não podemos aceitar, justificar e até pedir um Estado policialesco, sem respeito aos direitos fundamentais e humanos dos cidadãos, pelo fato de estarmos a viver momentos difíceis em termos de violência.
Além disso, o Estado é o responsável pela segurança pública e titular de um grande aparelho repressor, dotado de todos os recursos necessários. Os cidadãos devem cobrar o aprimoramento e melhora na repressão ao crime. Dessa forma todos terão a justiça cumprida, na medida da culpabilidade dos agressores, dentro das normas legais para todos os procedimentos, seja na investigação, acusação, condenação ou punição.

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