A pandemia de Covid-19, declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em março de 2020, revelou as fragilidades do Brasil e colapsou setores como turismo, bares e restaurantes, enquanto a ausência de políticas públicas estruturadas forçou o país a suspender o teto de gastos, ampliar o crédito e criar o auxílio emergencial.

A gestão federal, liderada por Jair Bolsonaro, sabotou medidas sanitárias, atrasou a compra de vacinas e politizou a imunização, levando o Supremo Tribunal Federal (STF) a autorizar estados e municípios a adotarem ações próprias, enquanto o Instituto Butantan e universidades federais aceleravam pesquisas para produzir imunizantes.

Em meio a esse cenário, a resistência do governo Bolsonaro à vacinação teve episódios como a recusa em adotar o passaporte vacinal. O debate público foi ainda mais contaminado por discursos negacionistas, como quando o presidente comparou o passaporte vacinal a uma “coleira no povo brasileiro” e alimentou teorias conspiratórias nas redes sociais.

Apesar dessa retórica, o esforço da população e das autoridades locais fez a campanha de vacinação ser bem-sucedida.

A politização da pandemia atingiu ainda a vacinação de crianças de 5 a 11 anos, autorizada pela Anvisa em dezembro de 2021, o que gerou ameaças veladas aos técnicos da agência feitas pelo presidente, que insinuou interesses escusos na aprovação das vacinas.

A pandemia também impactou fortemente a prestação de serviços de saúde não relacionados à Covid-19 no Sistema Único de Saúde (SUS), com queda de triagens, diagnósticos, cirurgias e transplantes, mesmo com o aumento de recursos federais para estados e municípios, o que ameaçou a população mais vulnerável e gerou sobrecarga futura ao sistema. Muitos brasileiros adiaram tratamentos médicos por medo da exposição ao vírus ou pela falta de médicos.

Já na esfera simbólica, o avanço da vacinação permitiu em março de 2022 o início do fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em locais abertos e fechados, como no Rio de Janeiro, em um momento de comemoração pelo êxito da imunização, embora persistam alertas para manter o uso de máscaras por pessoas com sintomas gripais.

Finalmente, em 5 de maio de 2023, a OMS declarou o fim da emergência de saúde pública da pandemia de Covid-19, reconhecendo o avanço da vacinação global, mas frisando que a doença continua sendo uma ameaça, enquanto o mundo carrega as marcas profundas deixadas pela pandemia: mudanças nas relações sociais, aumento da digitalização, impactos na saúde mental e na educação, desigualdades no trabalho remoto e a dolorosa lembrança de milhões de vidas perdidas, sendo quase 10% delas no Brasil.

A pandemia evidenciou que negar a ciência e politizar a saúde pública cobram um preço altíssimo e deixaram a lição de que a valorização da ciência, o fortalecimento do sistema público de saúde e a responsabilidade coletiva são essenciais para proteger a vida e o futuro das próximas gerações.

 

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