Mãe de dois filhos – ambos residentes em Angicos, no interior do Rio Grande do Norte -, a  prostituta Gabriela*, de 40 anos, não manda mais dinheiro para a família desde a semana passada. Sua renda, afinal, foi reduzida a praticamente zero desde o estouro da pandemia de coronavírus em Belo Horizonte, onde ela vive há cinco anos.

Nessa sexta-feira (18), Gabriela perdeu também a moradia, já que o hotel em que ela residia e trabalhava fechou as portas por tempo indeterminado. A profissional foi, felizmente, acolhida por um coletivo de profissionais do sexo, que lhe ofereceu abrigo e alimentação durante a quarentena. “Foi um alívio, pois voltar à minha cidade não é uma opção”, relata a profissional. 

Centenas de outras trabalhadoras sexuais que atuam na capital mineira podem não ter a mesma sorte. A Associação de Prostitutas de Minas Gerais (Aprosmig), que estima haver cerca de 2 mil garotas de programa só na região do baixo centro da cidade, teme que, com distanciamento social imposto pela covid-19, o destino de muitas dessas mulheres seja a rua. 

Sem amparo do município, que ainda não sabe como vai lidar com a situação, resta a elas, até o momento, algum auxílio vindo de ONGS, coletivos e pastorais, que alertam: a precariedade imposta ao baixo meretrício de BH pode contribuir para o agravamento do surto viral. 

Imigrantes

“O que agrava a situação é que 90% da nossa categoria vêm de outras cidades. Com o sumiço dos clientes e o fechamento de hotéis, muitas ficaram sem dinheiro sequer para pagar a passagem de volta às casas de suas famílias. As que não têm para onde voltar e permanecem nos hotéis ainda em funcionamento, já não tem como continuar pagando as diárias. Até agora, estamos praticamente abandonadas à nossa própria sorte”, relata Cida Vieira, presidente da Aprosmig.

Sem obrigação de paralisar as atividades – já que não foram contempladas pelo Decreto Municipal 17.304/2020, do prefeito Alexandre Kalil, muitas hospedarias reduziram o valor das diárias. 

“O preço médio baixou de R$ 100 para R$ 50. De qualquer forma, nós precisamos e queremos parar, cumprir a quarentena. Primeiro, porque é uma questão de saúde pública. Depois, porque continuar trabalhando também aumenta o estigma que existe sobre a profissão. Já somos vistas como veículos de doenças. Não queremos reforçar ainda mais essa marca tão ruim”, afirma Fátima Muniz, fundadora do Coletivo Clã das Lobas. 

A entidade, voltada à promoção de ações culturais, de saúde, além de assessoria jurídica para trabalhadoras sexuais da capital, conseguiu uma casa para alojar prostitutas que porventura perderem a vaga em quartos alugados. A lotação máxima da residência, no entanto, é de apenas 40 mulheres. 

Proprietário do Magnífico Hotel, tradicional da rua Guaicurus, Flávio Dornas diz que contribui para mobiliar o local. Fez também doações de mantimentos e produtos de higiene para a casa. Ele optou por fechar os 52 apartamentos de seu estabelecimento e afirma que não vai dispensar funcionários, nem reduzir salários. 

“Nosso plano de fechar o hotel já está em execução desde domingo. A ideia é garantir a segurança das meninas (para quem os quartos são alugados), dos meus funcionários e das pessoas que frequentam o hotel. Ainda há seis garotas aqui. Duas estão voltando para o interior. As outras quatro que não têm para onde ir estão sendo encaminhadas para a casa do Clã das Lobas. Se elas ficassem, nossa dificuldade de controlar o isolamento seria muito grande. O momento é de nos resguardarmos. Minha maior preocupação, agora, é zelar pela vida de todos nós. Dinheiro, a gente ganha depois”, disse o empresário.

Fonte: Estado de Minas

 

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