No livro “A máquina do ódio: notas de uma repórter sobre fake news e violência digital”, Patrícia Campos Mello, a jornalista mais premiada do Brasil, em 2019 e 2020, relata diversos ataques à imprensa perpetrados por Jair Bolsonaro, através das redes sociais, principalmente, com o uso de memes grosseiras contra jornalistas mulheres (p. 78), em um autêntico linchamento virtual (p.79), com o retorno dos modos de perseguição a jornalistas dos tempos da ditadura militar (p.92). O conflito permanente com a imprensa tem o objetivo de proteger os governantes de quaisquer críticas (p.185) e as agressões foram condenadas por entidades de jornalistas, políticos e figuras importantes da televisão (p.97-100).

No governo de Jair Bolsonaro, a imprensa e todos os demais opositores (figuras públicas, políticos) têm sido atacados, em uma estratégia de polarização, com o fim de gerar impactos nas redes sociais. Os fatos se sucedem.

Durante a pandemia, ele refutou medidas de isolamento social adotadas pelos governadores e prefeitos e descumpriu as regras, defendeu o isolamento vertical, apenas das pessoas do grupo de risco. Desrespeitou as práticas da medicina, quando disse terem as máscaras “eficácia quase nulo” e ao indicar, sem comprovação, ser eficiente o uso da hidroxicloroquina contra o coronavírus.

Ele tenta, de todas formas, desacreditar a iniciativa exitosa do governador de São Paulo, João Doria, de fazer acordo com a empresa chinesa, Sinovac, para a produção da vacina Coronavac, pelo Instituto Butantan. Em dezembro, Doria anunciou para o dia 25.01.2021 o início da vacinação de todas as pessoas presentes em São Paulo. Esse fato atiçou ainda mais os brios políticos do governo federal e isso é bom, pois o Brasil não pode assistir, como telespectador, países no mundo iniciarem a vacinação, inclusive na América Latina (Chile, Argentina, etc.).

O Supremo Tribunal Federal (STF) definiu ser compulsória a vacinação e as pessoas podem sofrer medidas de restrição de direitos. Essa decisão foi condenada por Bolsonaro e afirmou que não tomaria a vacina e estaria protegido, por ter contraído o coronavírus, mas esquece não ter tido a mesma sorte mais de 190 mil brasileiros mortos e incontáveis recuperados com sequelas físicas.

Esse governo, desinteressado em proteger vidas ao negar as medidas de isolamento social, é o mesmo hesitante em conceder auxílio para as pessoas, empresas, Estados e Municípios, tão necessárias devido ao desaparecimento das forças de mercado. Entretanto, não teve dúvidas em flexibilizar o uso de armas e defender alíquota zero para importação, demonstrando não importar as vidas e ser mais importantes os pactos firmados com grupos de interesse.

Nesse quadro, o Brasil, antes respeitado pela execução de um exitoso Plano Nacional de Imunização, sucumbiu à retórica política e ficou sem ação, até o momento, para iniciar a vacinação contra o coronavírus.

Euler Antônio Vespúcio – advogado tributarista

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