Por dia, ao menos, 15 crianças e adolescentes são exploradas e abusadas sexualmente em Minas Gerais. Somente no ano passado, o número de registros foi de 6.469, conforme dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp-MG). As informações são do jornal O Tempo.

Até março de 2022, já eram 1.368 vítimas. No cenário nacional, o problema é ainda maior isso porque que cerca de 102 mil denúncias foram realizadas no Disque 100 e no Ligue 180. Os números, segundo especialista ouvido pela reportagem, mostram apenas uma “ponta do iceberg” já que há muitas subnotificações. Conscientização é a palavra de ordem para reverter o cenário.

As estradas que cortam Minas Gerais e todo o Brasil são alguns dos pontos onde a violência é praticada contra crianças e adolescentes. Visando conscientizar mais de 3 mil motoristas sobre a triste realidade, o Grupo SADA aderiu ao Programa Na Mão Certa da Childhood Brasil, que busca mobilizar empresas e entidades empresariais para atuarem contra o crime que vitima milhares de crianças e adolescentes.

“Percebemos que poderíamos ser agentes transformadores da realidade brasileira. Trazendo esta discussão para dentro da nossa casa, vamos orientar nossos motoristas para que sejam protagonistas, ou seja, para que fiquem atentos à alguma situação [de abuso e exploração], vamos treiná-los sobre como denunciar.  Ele será protagonista nesta mudança”, diz Elisa Cunha Dias, coordenadora da área de Responsabilidade Social Corporativa do Grupo SADA.

Minas é ponto crítico

O Mapeamento dos Pontos Vulneráveis à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias Federais Brasileiras (Mapear) idealizado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) mostra que em Minas Gerais é o segundo Estado com maior número de pontos críticos no biênio 2019/2020: 351.

Palestras e vídeos serão utilizados como forma de conscientizar os motoristas. “Estaremos preparando os colaboradores para serem multiplicadores da melhoria de condições de vida nas estradas. Vamos abordar vários temas e o principal deles é o cuidado nas estradas com as crianças e adolescentes”.

Conscientização é o primeiro passo, destaca delegado

À frente da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e Adolescente de Minas Gerais, o delegado Vinícius Dias, reforça a necessidade da conscientização como a que acontecerá por intermédio do Grupo SADA e o Programa Na Mão Certa. “É importante, neste caso, os caminhoneiros saberem que a exploração sexual de crianças e adolescentes é atividade criminosa e eles podem ser responsabilizados”, afirma.

O delegado enfatiza que, muitas das vezes, as vítimas precisam se submeter para ajudar na renda familiar, no entanto, alerta para os traumas. “A prática do crime gera trauma psicológicos para essas meninas que não podem ser vistas como objetos. Políticas públicas são necessárias, na análise do delegado, para reverter cenário de violência. “É preciso colocar as crianças e adolescentes a maior parte do tempo nas escolas, pois elas vão, neste caso, para a beira de rodovias com finalidade lucrativa para ajudar a família”.

“Ponta do iceberg”, analisa especialista

Os registros oficiais de violência contra crianças e adolescentes tendem a ser maiores do que os notificados e, muitas das vezes, acontecem no ambiente familiar. Cerca de apenas 10% dos casos foram denunciados em todo o país em 2021, segundo o “Programa Na Mão Certa”. Isso faz com que o Brasil tenha, aproximadamente, mais de 1 milhão de casos por ano. Para o especialista em segurança pública e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Robson Sávio Reis, a sociedade naturaliza o que acontece.

“Os dados representam uma parte pequena do que acontece. A ponta do iceberg. Há imensa subnotificação e uma certeza de que no âmbito familiar tudo se pode. Isso faz com que a violência seja naturalizada. Os números que temos são assustadores, mas não mostram o que, de fato, acontece”, explica Reis.

Os estudos, conforme dito pelo especialista, mostram que cerca de 80% dos crimes sexuais contra crianças e adolescentes acontecem por pessoas próximas do núcleo familiar. “Temos que denunciar sempre que soubermos, buscar medidas protetivas para as vítimas e acionar os órgãos competentes. Todos nós somos responsáveis quando presenciamos algo acontecendo e naturalizamos ou omitimos.

Outro fator que contribui para a continuidade de casos de exploração sexual é a impunidade. “Pessoas acham que com familiares tudo pode ser feito. A certeza de impunidade é respaldada por mecanismos insuficientes: o Estado está aquém da na política de prevenção e a sociedade não vê nenhum tipo de problema”, finaliza.

Fonte: O Tempo

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