Tenho pensado muito na “lei da compensação”. Ela nunca existiu no papel. Desde criança, porém, ouço falar dela. Ela nos acompanha vida afora. “Estude, meu filho – dizia minha santa mãe –, tire boas notas, depois, além de passar de ano, você será compensado com as férias, época para se distrair”.

O ensinamento era constante, mas soava-me, às vezes, como uma cantilena, uma arenga, pois as férias sempre estavam distantes. Mesmo ciente de que viriam, e embora nos causassem algum alívio antecipado, serviam-me pouco de estímulo. Só depois da adolescência, compreendi melhor o que me dizia minha mãe.

Se você pensou, leitor, ao ler o que escrevi nas primeiras linhas, que eu estava pensando, também, em nosso complexo país, você acertou. E se disser que, ao iniciá-las, estava eu concentrado no terremoto que provocou milhares de mortes, gemidos, destruições, medo e choro em cidades na Turquia e na Síria, você acertou em cheio.

Quando vi pela televisão a notícia e as trágicas e tristes imagens, me lembrei do nosso país, que acabou de passar, no dia 8 de janeiro, por um perigoso “terremoto político”. Foi duro assistir às cenas de barbárie contra os Três Poderes da República, sustentáculos do regime democrático, único capaz de tocar nosso país pra frente, mas nada comparável ao que aconteceu aos dois países. E foi aí que me veio à lembrança a “lei da compensação”. E foi aí que senti profunda empatia por esses dois sofridos povos.

Como se não bastassem os erros e os males causados pelos erráticos humanos, tão iguais aos demais, passados 84 anos, a natureza resolveu mais uma vez agravar a tragédia de uma das mais sofridas regiões – “palco de crise humanitária, com refugiados, guerra e pobreza”, como nos conta o jornalista Guga Chacra.

O presidente Lula tem razão: quem investir em nosso país certamente será bem recompensado. Não temos terremotos nem guerras. A última, contra o Paraguai, se iniciou em dezembro de 1864 e terminou em março de 1870. A guerra se deveu, sobretudo, ao ditador Francisco Solano López, que usou do poder para enriquecer-se e enriquecer sua família, um mau exemplo do qual ainda não nos livramos.
Na política, a recompensa está (ou deveria estar) na boa prestação do serviço público, no bem comum. Lula corre o risco de não a conquistar quando, raivosamente, não só critica a política de juros adotada pelo Banco Central, mas, também, o seu presidente, Roberto Campos Neto, que tem mandato até 2024.

Além disso, cria crise desnecessária, bem como compromete o seu capital político. Por mais que Jacques Wagner (PT-BA) afirme que o presidente não quer desrespeitar nem o mandato, nem a autonomia do Banco Central, e que os juros altos são “inibidores de investimento produtivo e de geração de emprego”, não faz bem ao país essa guerrinha de quem tem, como missão precípua, pacificar, apaziguar e unir o país. Para isso foi eleito.

 

– fonte: O Tempo

 

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