Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgados nessa quinta-feira (18), mostram que todas as formas de violência de gênero aumentaram em relação ao último ano. O estupro foi o crime com o maior crescimento. Realidade percebida em cidades como Pouso Alegre e Passos que tiveram aumento nos registros de casos de estupro neste ano, conforme a Sejusp.
Os dados do anuário se referem a 2023. O Brasil atingiu um novo recorde de estupros e estupros de vulneráveis consumados, com 83.988 vítimas. Com a estatística atualizada, o país registrou 1 crime de estupro a cada 6 minutos, segundo os registros policiais.
Em relato à reportagem da EPTV, afiliada Globo, pelo menos duas mulheres conseguiram contar suas histórias após anos de silêncio. Agora, elas quebram esse ciclo em um tempo marcado pela violência contra a mulher.
“Quando eu me lembro desse fato me dá um desespero muito grande. E sim, parece que eu estou sendo vítima de novo”, desabafou uma vítima não identificada.
“Foi dentro de casa… e minha mãe sempre falava ‘olha, cuidado com estranhos, não aceite nada de estranhos, não converse com estranhos, porque a gente ia pra escola sozinhas, né? E mal sabia que o perigo estava dentro de casa”, relatou outra mulher que preferiu não se identificar.
De acordo com dados do 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, as principais vítimas de estupro no Brasil são:
- Meninas negras de até 13 anos;
- Mais de 75% delas estão em situação de vulnerabilidade;
- Mais de 60% dos casos acontecem dentro de casa;
- A grande maioria dos agressores são familiares ou conhecidos das vítimas.
Ainda segundo os dados, todos os crimes de violência contra a mulher cresceram. Os que registraram maiores aumentos foram: importunação sexual (+48,7%), stalking (+34,5%) e violência psicológica (+33,8%).
“Essas mulheres acabam denunciando e tendo que voltar a conviver com o agressor. Isso inibe a procura e a denúncia. […] A esmagadora maioria dos agressores são familiares que convivem diariamente com essa vítima. Então, existe um espectro enorme de subnotificação”, explica Janaína de Mendonça Fernandes, professora do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Unifal.
Na região
A pedido da EPTV, afiliada Globo, a Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp) reuniu dados dos cinco primeiros meses de 2023 e do mesmo período neste ano.
O levantamento apontou que o número de estupros em Minas Gerais cresceu 8,6% – saltando de 477 casos registrados em 2023, para 518 casos registrados.
No Sul de Minas, entre as quatro cidades mais populosas, os casos de estupro de vulnerável tiveram aumento em duas: Pouso Alegre e Passos.
Os números de estupros se referem à quantidade de registros. No entanto, é importante considerar que esta é uma das violências com mais casos de subnotificação. Ou seja, a violência acontece, mas nem sempre os agressores são denunciados.
“É importante que as pessoas tenham conhecimento desse tipo de situação para que observem, para que avaliem o que está acontecendo ali, no interior dessas casas, com as suas crianças, com seus adolescentes, para que essas denúncias cheguem até o poder público. […] Quem tem que investigar é a polícia, então procure as autoridades”, afirmou a delegada Geny Azevedo.
As denúncias de qualquer tipo de violência contra a mulher podem ser feitas para a Polícia Militar (190) ou Disque Denúncia (181).
Fonte: G1 Sul de Minas