A imagem é avassaladora. Onde deveria correr aquele que é considerado o rio mais caudaloso do mundo, o que se vê são fios de água entrecortados. A foto compõe uma série de registros feitos pelo fotógrafo mexicano Musuk Nolte sobre a seca extrema da Amazônia, em 2024, ano em que 63% das bacias do bioma registraram perda de água. Premiada no concurso World Press Photo de 2025, a série está em exposição na CAIXA Cultural RJ, que entra na sua última semana.
O projeto ganhador faz parte de uma série chamada “Geografia das Águas”, em que Nolte vem documentando a problemática da água em diferentes níveis de altitude no Peru, país onde ele vive atualmente.
“Cada altitude tem implicações distintas, as mudanças climáticas as afetam de uma maneira distinta também e o que me interessava nesse projeto era explicar como territórios além das distâncias e altitudes estão conectados em um único sistema”, explicou o fotógrafo.
Foi assim que ele começou a trabalhar na Amazônia peruana, na cidade de Iquitos, uma das principais cidades onde o Rio Amazonas deságua. “Comecei a documentar as secas lá. Em Iquitos, mesmo com um fluxo de água muito baixo, o problema não era tão perceptível ou tão explicitamente evidente. Algo que em Manaus, sendo quase o epicentro ou o coração da Amazônia e do Rio Amazonas, as imagens eram muito eloquentes, da magnitude do que estava acontecendo”.
Nolte, que esteve recentemente no Rio de Janeiro para participar de um evento da exposição World Press Photo 2025, também falou à CNN sobre a realização da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP30, no Brasil em novembro.
“Acho que é um gesto interessante fazer isso na Amazônia, mas também é meio paradoxal quanto ao impacto adverso e negativo que isso terá, considerando o número de aviões que vão chegar, o lixo que vai ser gerado. Então, acho que é importante sempre ter essa atitude desafiadora diante desses gestos ou intenções”, afirma ele, que se diz um pouco cético com relação a esses encontros.
“Me parece que as coisas que são reais ou necessárias vêm mais da maneira como a população em seu cotidiano pode tomar melhores decisões de forma mais informada. E a COP pode ser um bom momento para se posicionar”.
Mesmo assim, Nolte se diz otimista e acredita que seu trabalho pode contribuir. “Eu sou um fotógrafo documental. É como traçar o olhar de muitas pessoas para mostrar certas realidades. Às vezes, certas tragédias. Mas também gerar uma espécie de consciência das realidades para que possamos nos informar e saber o que podemos fazer na vida cotidiana para tentar tornar as coisas um pouco melhores”.
Fonte: Aline Sgarbi-CNN Brasil