O surto de catapora assusta a população formiguense. Duas crianças morreram vítimas da doença, o que provocou a preocupação de pais e médicos na cidade.
Em entrevista ao jornal Nova Imprensa e ao portal Últimas Notícias, na quarta-feira (19), a coordenadora do Setor de Epidemiologia da Secretaria de Saúde, Juliana Castro, informou que, nesta semana, os números de notificações de casos de catapora já reduziram 40%. ?O surto está ?entrando? em uma situação mais ?confortável?. A adesão de casos suspeitos diminuiu. É importante a orientação sobre a doença e as formas de prevenção. Estamos visitando as escolas colocando cartazes nas unidades. O contágio é dado por meio da respiração, o contato com uma pessoa que esteja com a doença. Recomendamos que essas pessoas não frequentem ambientes muito fechados ou com grande aglomeração de pessoas. É importante que elas fiquem mais ?recolhidas??.
Questionada se o número de óbitos de crianças contaminadas pela doença teria passado de duas para cinco, Juliana negou a informação. ?Temos crianças internadas, mas que estão com quadro estável. A população deve manter cuidados como evitar locais com aglomeração de pessoas, não enviar filhos doentes para a escola, evitar contato com pessoas doentes. Em relação à vacina ainda não temos posição definida da Secretaria Estadual de Saúde, que é o órgão responsável pela liberação da vacina. Diante da mudança nas notificações desta última semana, na diminuição dos casos, quero orientar a população para que se acalme e mantenha as medidas preventivas?.
De acordo com o Setor de Epidemiologia, até na quarta-feira havia três crianças internadas por causa da doença. ?Na verdade, desde o início do ano, foram detectados 330 casos, esse número não é só das últimas semanas não, geralmente o aumento se dá nos meses de julho e agosto. Qualquer um pode pegar a doença, mas ela predomina em crianças menores de 15 anos?, explicou a coordenadora.
No ano passado, até o dia 15 de outubro, a Secretaria Municipal de Saúde havia registrado 24 casos de catapora em Formiga. Os números neste ano aumentaram consideravelmente. Na sexta-feira passada (14), o MGTV exibiu uma reportagem falando sobre os casos, com óbitos em Formiga. Nesta semana, outros meios de comunicação de abrangência nacional também veicularam matérias sobre o assunto.
Na semana passada, a metade dos leitos infantis da Santa Casa estava ocupada com crianças afetadas pela doença. Em 15 dias foram registrados 278 casos. A última vítima foi Cauã Honorato Faria, de dois anos e sete meses. Era o único filho do casal. A evolução rápida da doença preocupou os médicos.
Indignação de uma mãe
Uma moradora do bairro Bela Vista procurou indignada a redação do jornal. Ela tem uma filha de 6 anos e veio à procura de informações sobre a situação das vacinas para as crianças. ?A Prefeitura junto aos órgãos competentes não vai se manifestar a respeito e pagar a vacinação das crianças? Tem muitos pais que não têm condições de pagar pela vacina e como fica a situação? Nós precisamos de ajuda para saber esta resposta?.
?O caso é urgente, eu e minhas vizinhas estamos em busca de ajuda e solução imediata. O problema existe e precisa de solução. As autoridades precisam correr atrás de alguém no Estado, pois nós não podemos correr atrás disto, não temos força para chegar a estas autoridades. Será que nossas crianças vão pagar a conta mais uma vez?
Nós pais, queremos uma solução pra ontem, as crianças têm direito garantido pela lei?,
disse revoltada.
A moradora cobrou providências das autoridades. ?Será que o juiz da Infância não pode agir por nós e o vice-prefeito? A minha filha está com medo de sair na rua. Veja o terror que está acontecendo e junto com ela tem mais coleguinhas na mesma situação. Estamos indignadas com o descaso em que estamos tendo. É de dar medo e indignação de tanto descaso. É um absurdo ninguém na cidade falar nada. Que é isso gente! Se tem vacina para quem pode pagar porque não tem para quem não pode?,? indagou.
?Não sei se serei ouvida, mas, estou tentando entrar em contato com a secretária de Saúde do Estado. Não podemos aceitar tudo calado, é por isso que a saúde pública está assim. Não quero ver mais crianças sofrendo medo e insegurança. Acho melhor começar a colocar minha cara na rua até ver o que vai dá. Quem pode, por favor, responder por nós pessoas?? disse indignada.
Assunto é destaque em reunião da Câmara
O surto de catapora em Formiga foi um dos assuntos discutidos na reunião do Legislativo, na segunda-feira (17). Mais uma vez a secretária de Saúde foi alvo de diversas críticas por parte dos vereadores.
Cid Corrêa ressaltou que há três meses as notificações já eram seis vezes maior que o normal. ?Já deveria ter sido feito o pedido das vacinas e ter começado uma campanha de conscientização em creches, escolas e locais públicos, ensinando a população como se prevenir dessa doença. Só que nada foi feito pela Secretaria de Saúde, eles esperaram acontecer mortes de crianças para tomar alguma providência. É lamentável, é revoltante. Este é um caso de processo administrativo, caso de polícia, de Ministério Público. Se não tem recursos do Governo do Estado, que providencia qualquer tipo de ajuda dos cofres municipais, pois é dinheiro do cidadão?.
Segundo Eugênio Vilela/PV para a secretária de Saúde, o Estado não disponibilizar as vacinas é condição suficiente e nada pode ser feito. ?A justificativa de que o Estado e o SUS não disponibilizam, não pode ser motivo de cruzar os braços. Isso mostra uma falta de planejamento muito grande e com isso, ineficiência?, disse.
De acordo com Mauro César /PMDB, a situação está alarmante e o município precisa tomar uma postura séria e eficaz. José Geraldo da Cunha (Cabo Cunha/PMN) também se pronunciou sobre o assunto. ?Nós temos de responsabilizar sim aqueles que devem se preocupar com a saúde pública em Formiga, se foi detectado um número maior do que nos anos interiores. Se a secretária de Saúde foi informada de que os casos eram além de anos anteriores, devemos responsabilizar aqueles que têm o dever de zelar por nossas crianças?.
O vereador Reginaldo Henrique dos Santos (Dr. Reginaldo/PCdoB) disse que este é um caso de calamidade pública. ?É grave o que está acontecendo. Acho que a secretária foi omissa, estamos convocando ela novamente para vir aqui para debatermos sobre a saúde. Tem que vacinar todas as crianças e não vi nenhuma atitude por parte da secretária. Temos que questionar porque ela não adquiriu essas vacinas. Está deixando as coisas soltas demais. Você não vê uma atitude clara e objetiva da secretária de Saúde, se são por falta de questões econômicas, quais questões são essas?? indagou. Já Gonçalo Faria/PSB cobrou uma postura da Secretaria do Estado. ?Até agora, em toda a mídia que tenho acompanhado, o Estado não se manifestou. São 19 mil casos em Minas Gerais?, ressaltou o vereador.
A doença
A catapora, ou varicela, é uma doença infecciosa causada pelo vírus Varicela-Zoster. Juliana Castro alerta que o período de transmissão da catapora pode ocorrer até dois dias antes do aparecimento dos sintomas e acontece até a secagem completa das lesões. A doença dura em média de sete a dez dias.
Em Minas Gerais, este ano, foram registrados 10.600 casos de catapora. Os surtos da doença são mais comuns no fim do inverno e início da primavera.
A vacina não é oferecida pela rede pública. A Secretaria de Saúde já se mobilizou e fez o pedido ao governo do Estado. Na rede particular a vacina custa, em média, R$ 160. A Gerência Regional de Saúde (GRS) informou que está sendo realizado um estudo epidemiológico para fornecer a vacina na rede pública da região, mas ainda não tem uma data prevista.
O vírus pode ser transmitido pelo ar ou em contanto direto com as lesões. Neste caso, é fundamental higienizar as mãos com álcool. E para as pessoas que estiverem doentes, a orientação é ficar em casa, tomando muito líquido, até que todos os sintomas desapareçam.
A doença é mais comum nas crianças, mas pode atacar também os adultos e é um perigo para as grávidas, já que a catapora pode resultar em má formação do feto
Uma vez adquirido o vírus, a pessoa fica imune por toda a vida. No entanto, ele permanecerá no organismo e, futuramente, poderá provocar uma doença conhecida como Herpes-Zoster, ou cobreiro.

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