As equipes de emergência prosseguiam, nesta sexta-feira (10), com as buscas por sobreviventes entre os escombros provocados pelo terremoto que afetou a Síria e a Turquia na segunda-feira, um dos mais devastadores em décadas na região, com um balanço provisório de mais de 22.300 mortos.

A ajuda humanitária começou a chegar à Turquia. A Alemanha anunciou o envio de 90 toneladas de material por avião. Ao mesmo tempo, o acesso à Síria, que está em guerra civil e com o regime alvo de sanções da comunidade internacional, é muito mais complicado.

A guerra destruiu hospitais e provocou problemas no abastecimento de energia elétrica e água na Síria, mas a ONU só consegue enviar ajuda para as zonas controladas por rebeldes no noroeste do país através de Bab al Hawa, na fronteira com a Turquia.

A diplomacia turca afirmou que está trabalhando para abrir outros dois pontos de passagem “com as regiões sob controle do governo sírio, por razões humanitárias”.

Pouco depois, o governo sírio anunciou que vai autorizar o fornecimento de ajuda internacional às áreas controladas pelos rebeldes, com a “supervisão” do Comitê Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho Árabe Sírio.

O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, exigiu, por sua vez, “um cessar-fogo imediato” na Síria para facilitar o fornecimento de ajuda.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciou na quinta-feira que visitaria a Síria e a presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Mirjana Spoljaric, chegou a Aleppo, na Síria, no mesmo dia.

“Abandonados”

Nos dois lados da fronteira, milhares de casas foram destruídas e as equipes de emergência intensificam os esforços, mas as possibilidades de encontrar sobreviventes são cada vez menores após o período de três dias que os especialistas consideram crucial.

A situação, agravada por um frio glacial, levou o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que está em luta armada contra o exército turco desde 1984, a anunciar nesta sexta-feira a suspensão temporária de suas “operações” na Turquia.

Centenas de voluntários de diversos países chegaram à região do terremoto para ajudar nos resgates.

Quase 30 trabalhadores do setor de mineração viajaram mil quilômetros de Zonguldak, perto do Mar Negro, até Antakya, para ajudar nas buscas.

Nesta cidade ao sul da Turquia, um bebê de 18 meses e seu irmão foram resgatados nesta sexta, na 105ª hora após os tremores, informou a NTV. Ambos foram encontrados com vida entre os escombros de seu apartamento em um prédio de três andares.

Duas horas antes, uma menina de três anos também foi resgatada no mesmo local.

A irritação é cada vez maior na Turquia com a resposta do governo, considerada insuficiente e tardia. O presidente Recep Tayyip Erdogan reconheceu “deficiências”.

“As pessoas que não morreram no terremoto foram abandonadas para morrer no frio”, declarou à AFP Hakan Tanriverdi na província de Adiyaman, uma das mais afetadas pelo tremor.

Mehmet Yildirim, outro morador da região, disse que não viu ninguém por várias horas após o terremoto. “Nem do Estado, polícia ou soldados. Que vergonha. Nos abandonaram à própria sorte”, disse.

Os primeiros corpos de vítimas turco-cipriotas retirados dos escombros em Adiyaman foram repatriados para o Chipre nesta sexta-feira, incluindo os de sete adolescentes que disputavam um torneio de vôlei, anunciou a imprensa local. Até o momento foram encontrados os corpos de 19 jovens do grupo.

O presidente turco se pronunciou nesta sexta. 

“Haviam tantos prédios danificados que, infelizmente, não conseguimos acelerar nossas intervenções como gostaríamos”, afirmou durante uma visita à cidade de Adiyaman.

Risco de cólera

O terremoto foi o mais intenso na Turquia desde 1939, quando 33.000 pessoas morreram na província de Erzincan (leste).

De acordo com os balanços oficiais mais recentes, o terremoto, de 7,8 graus de magnitude e que foi acompanhado por mais de 100 tremores secundários, provocou pelo menos 22.368 mortos: 18.991 na Turquia e 3.377 na Síria.

A OMS calcula que 23 milhões de pessoas estão “potencialmente expostas, incluindo cinco milhões que são vulneráveis”. A organização teme uma crise de saúde.

As organizações humanitárias expressaram preocupação com uma eventual propagação do cólera, doença que voltou a ser registrada na Síria.

Além do sombrio balanço humano, a agência de classificação financeira Fitch calcula que os danos econômicos devem superar 2 bilhões de dólares, com a probabilidade de alcançar US$ 4 bilhões.

Fonte: G1

COMPATILHAR: