Falar de violência no Brasil se tornou tão banalizado quanto a própria violência. Ela é tão disseminada e já há muito tempo, que todos se acostumaram. Na imprensa só há narração e menção a números de forma natural, sem cobrar de forma enfática medidas de combate, nem cobram das autoridades nas entrevistas. As emissoras de televisão criaram programas exclusivos, e já existem até os comentaristas de segurança. O Brasil conseguiu chegar a isso: comentaristas de segurança!

Como característica comum, praticamente todos são ex-agentes de segurança que, na ativa, não conseguiram combatê-las, mas agora ensinam como enfrentá-la, e o cidadão a se defender.

As autoridades responsáveis simplesmente ignoram e distorcem os fatos, amenizam e justificam os números.

Tome por base o governo federal. Na média de 50 mil assassinatos ao ano, já foram mais de 200 mil nos quatro anos da presidenta Dilma Rousseff. Quem for capaz, aponte uma medida efetiva, a não ser aquelas liberações de verbas que não passam de palavras ao vento e manchetes chamativas.

Já nos acostumamos com a quantidade absurda e com a crueldade extrema. Não faz mais diferença entre mil, 50 mil ou um milhão de assassinatos por ano. A gravidade não assusta mais. Já tivemos cérebro de criança espalhado pelos asfaltos do Rio de Janeiro. Em São Paulo já tivemos crianças sufocadas pelo pai e madrasta, depois de pedirem socorro ao Conselho Tutelar, em vão.

Desesperados com os números, seguindo um modelo ultrapassado, policiais militares matam os suspeitos depois de rendidos e apostam na velha e manjada estratégia de atribuir as mortes às forjadas resistências.

Como gato escaldado, moradores estão alertas e ligam as câmeras ao primeiro sinal de uma ação policial. E tem desmascarado muitas execuções, que seriam facilmente transformadas em mortes decorrentes de resistências às ordens policiais, sobre as quais as autoridades convenientemente nunca se mexeram.

Distorção na prevenção, omissão das autoridades, desaparelhamento, más investigações, punições brandas formam um círculo vicioso de impunidade. Por isso, de cada cem assassinos, mais de 90 ficam impunes. As poucas condenações se tornam um combustível ao aumento da violência.

Não se muda cultura de uma hora para outra. E policiais matam porque são mortos; são mortos barbaramente porque matam estupidamente. E a medida para evitar a morte de policiais foi aprovar uma lei federal com pena dobrada para quem matar um PM. A continuidade de policiais sendo mortos comprova a tradição de se criar lei para não ir além do papel.  

Recentemente foi divulgado um estudo da Unesco com as chamadas “mortes matadas por armas de fogo”. Foram 42.416 em 2012.

Apesar desse genocídio contínuo, nenhum governador vem a público apontar alguma medida efetiva. Soltam seus clichês antigos de que investiram milhões. Pior se for verdade, pois a dinheirama não tem surtido nenhum efeito.

 

Apesar da indiferença de todos os governadores, blitz ainda seria uma das medidas mais eficazes. Tirar policiais de prédios públicos e trazê-los para as ruas, também. Essa fora uma promessa de campanha em 1990 de um dos candidatos ao governo de São Paulo. Mas o principal motivo dessa violência reinante é que as polícias militares do Brasil inteiro continuam como Jesus Cristo: existem, mas ninguém as vê.

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