Um grupo de médicos chineses realizou, pela primeira vez na história, um transplante de pulmão de porco geneticamente modificado em um paciente humano. O procedimento experimental foi conduzido na cidade de Guangzhou e descrito em artigo publicado nessa segunda-feira (25) na revista científica Nature Medicine.
O receptor do pulmão foi um homem de 39 anos que havia sofrido morte cerebral. Com o consentimento da família, os médicos substituíram o pulmão esquerdo pelo órgão do porco, mantendo o pulmão direito original. Essa foi a primeira tentativa registrada de xenotransplante de pulmão, o que representa um marco no campo da medicina.
O transplante de pulmão é um dos mais complexos da medicina devido à extensa rede de vasos sanguíneos que o órgão abriga, o que aumenta significativamente os riscos de rejeição, coagulação e lesões. Além disso, o pulmão está diretamente exposto ao ar e participa ativamente da resposta imunológica, o que torna o procedimento ainda mais desafiador.
Modificação Genética e Preparo do Órgão
Para reduzir as chances de rejeição, os cientistas modificaram geneticamente o pulmão do porco usando a técnica CRISPR. Foram desativados três genes do animal que causariam rejeição e inseridos três genes humanos para aumentar a compatibilidade. O paciente também recebeu medicamentos imunossupressores.
Nos primeiros momentos após o procedimento, não houve rejeição hiperaguda, uma resposta extrema comum nos primeiros minutos ou horas de um xenotransplante. No entanto, sinais de inflamação surgiram nas primeiras 24 horas, e no terceiro dia, o sistema imunológico do paciente começou a produzir anticorpos contra o novo pulmão.
Apesar das reações adversas, o órgão permaneceu funcional por nove dias, até que a família autorizou o encerramento do experimento. Durante esse período, médicos observaram danos progressivos ao tecido pulmonar, apontando para limitações significativas na aplicação da técnica em pacientes vivos.
Perspectivas Futuras
De acordo com os pesquisadores, os resultados são importantes para o avanço da ciência e indicam que futuros testes devem incluir estratégias para bloquear células imunológicas específicas e reduzir moléculas inflamatórias. A pesquisa representa um passo significativo, embora ainda distante da viabilização de transplantes de pulmão de animais para humanos vivos de forma segura.
O experimento abre caminho para novas abordagens na busca por soluções à escassez de órgãos humanos para transplante, mas também evidencia os desafios científicos e éticos que ainda precisam ser superados.
Com informações do Metrópoles