“Me senti invadida, traída. Como alguém consegue se aproveitar de um sentimento tão bom, de uma mãe querendo ajudar o filho?”.
Assim uma idosa de 63 anos, alvo em junho deste ano de estelionatários, em Belo Horizonte, descreveu a sensação após transferir quase R$ 7 mil para uma pessoa que se passou por um de seus familiares mais próximos. Em Minas Gerais, a cada hora 11 pessoas com mais de 60 anos são alvo de criminosos. Especialistas acreditam que o aumento no uso de novas tecnologias e redes sociais durante a pandemia de Covid-19, somada à carência emocional e à solidão das pessoas dessa faixa etária, podem ser os principais motivos para que os idosos sejam, cada vez mais, vítimas de crimes.
De janeiro a julho de 2022, o número de infrações cometidas contra idosos cresceu quase 12% no Estado, saltando de 50.404, no mesmo período do ano anterior, para 56.409 registros. Os números são do Observatório de Segurança Pública, da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), sendo que as principais infrações são: furto, estelionato, ameaça, dano, vias de fato, agressão, roubo e lesão corporal.
O especialista em gerontologia e consultor de políticas públicas para o envelhecimento, Rodrigo Caetano Arantes, explica que existem vários motivos para o aumento nestes crimes, entre eles a pandemia. “Eles precisaram ficar isolados e se adaptaram para contactar amigos, familiares e vizinhos. Mas não tiveram tempo suficiente para se aprimorarem no uso dessas tecnologias. Muitos não têm a malícia de usar aplicativos e acabam clicando em links que não deveriam, fornecem dados pessoais através de mensagens”, detalha.
Outro ponto destacado pelo especialista é que muitas pessoas idosas possuem depressão, consequência do preconceito que existe na sociedade e até entre membros das famílias. “Existe uma carência emocional, e elas se sentem sozinhas, à margem da sociedade, o que faz com que sejam, digamos assim, pratos cheios para os criminosos. Eles se aproveitam dessa condição de vulnerabilidade emocional para fazerem essas vítimas”, pontua Arantes.
Crimes familiares e ‘estelionatos emocionais’
A delegada Marcelle Bacellar, da Delegacia Especializada em Atendimento à Pessoa com Deficiência e ao Idoso, explica que a unidade policial não atende crimes como furto, roubo e estelionato, que devem ser encaminhados para a delegacia da região onde o crime foi sofrido para investigação. Contudo, cerca de 98% dos crimes atendidos na unidade especializada são relacionados a crimes ocorridos dentro do ambiente doméstico, tendo integrantes da família como autores.
Fonte: O Tempo