Mesmo sem tecnologia capaz de fotografar buracos negros com nitidez, cientistas deram um passo inédito na astrofísica ao medir, pela primeira vez, a coroa de gás superaquecido que circunda um buraco negro supermassivo. O feito foi alcançado graças a um raro alinhamento de astros e envolveu o RX J1131, um buraco negro localizado a quase seis bilhões de anos-luz da Terra.

A pesquisa foi liderada por cientistas holandeses e publicada em março na plataforma arXiv, em versão pré-print. O estudo será submetido à revista científica Astronomy & Astrophysics após revisão por pares. A observação só foi possível por conta de uma configuração específica do espaço: uma galáxia massiva, situada a quase quatro bilhões de anos-luz da Terra, se alinhou com o buraco negro e suas estrelas atuaram como “lupas”, distorcendo o espaço-tempo e ampliando a luz ao fundo.

Esse fenômeno criou um efeito de zoom duplo, permitindo aos pesquisadores observar com mais detalhes a coroa do RX J1131 — uma nuvem de gás superaquecido com cerca de 50 unidades astronômicas, o que equivale aproximadamente ao tamanho do Sistema Solar. Alimentando-se de gás e poeira, o buraco negro atinge temperaturas de milhões de graus e é tão brilhante quanto um quasar, um tipo de núcleo galáctico altamente luminoso.

Segundo Matus Rybak, autor principal do estudo e pesquisador da Universidade de Leiden, na Holanda, “em princípio, encontramos uma nova maneira de observar o que acontece muito perto do buraco negro”, declarou ao portal Live Science.

Análise das imagens
Durante a análise, a equipe identificou quatro imagens diferentes do quasar RX J1131, com pequenas oscilações de brilho. Inicialmente, acreditava-se que essas variações vinham do próprio buraco negro, o que faria todas as imagens brilharem ou escurecerem simultaneamente. No entanto, os pesquisadores perceberam que os brilhos ocorriam de forma independente.

A explicação veio da atuação das estrelas da galáxia à frente, que funcionaram como pequenas lentes gravitacionais. Elas ampliaram diversas partes da coroa do buraco negro, provocando cintilações distintas. “Essa era a prova cabal de que tinha algo ao longo do caminho. Essa cintilação nos dados não poderia ser explicada de outra forma”, explicou Rybak. A análise dessa cintilação permitiu medir o tamanho da coroa do RX J1131.

A descoberta representa um avanço significativo na compreensão de como os buracos negros se comportam e evoluem ao longo do tempo. Com o apoio de telescópios modernos e novas tecnologias, os cientistas esperam continuar desvendando os mistérios do universo. “O mais emocionante é que veremos coisas que ainda nem sabemos que existem”, conclui Rybak.

Com informações do Metrópoles

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