Desde meados de 2024, as onças-pintadas e pretas que vivem no Cerrado nativo do Norte de Minas estão sendo monitoradas por pesquisadores do projeto “Onças – Guardiãs do Grande Sertão Veredas”, viabilizado pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), com recursos obtidos por medidas compensatórias, e contemplado pelo Semente, núcleo do MPMG para incentivo a projetos sociais e ambientais.
O objetivo da iniciativa, realizada pela organização não-governamental Onçafari, é entender o comportamento e movimentação das onças para propor corredores ecológicos de mata nativa por onde os animais possam circular e se reproduzir livremente.
“As onças-pintadas e pretas, que são a mesma espécie, precisam de áreas gigantescas para viver. Ao percebermos o comportamento desses animais e o ambiente de que eles precisam, estamos ajudando a proteger o meio ambiente, as onças e todos os outros bichos que convivem no mesmo bioma”, explica o biólogo Eduardo Fragoso, coordenador do projeto. Ele acrescenta que, por isso, as onças também são conhecidas como “espécie guarda-chuva”.

Foto: Divulgação/Onçafari
Nas redes sociais do Onçafari, um post explica como esse equilíbrio funciona: “Muito mais do que um símbolo da nossa fauna, a onça é uma verdadeira guardiã das florestas. No topo da cadeia alimentar, ela exerce um papel fundamental no controle de populações de outras espécies, ajudando a manter o equilíbrio ecológico e a saúde dos ecossistemas onde vive. Quando protegemos a onça, protegemos também vastas áreas de floresta, seus rios, seu clima e toda a biodiversidade que depende desse ambiente“.
Monitoramento
O monitoramento das onças ocorre com a ajuda de armadilhas fotográficas espalhadas numa área de 93 mil hectares do lado mineiro do Parque Nacional Grande Sertão Veredas, o equivalente a três vezes o tamanho de Belo Horizonte. As armadilhas disparam, tirando fotos ou fazendo vídeos, quando detectam alguma movimentação.

Foto: Divulgação/Onçafari
No total, o parque possui 230 mil hectares e abrange, além do Norte de Minas, uma parte da Bahia. Fora de Minas Gerais, as onças também são monitoradas com a viabilização financeira de outros parceiros.
A equipe que monitora a área mineira do Parque, no projeto viabilizado pelo MPMG, é formada por dois biólogos e dois assistentes de pesquisa. O grupo já identificou 27 onças-pintadas, sendo que 6 delas possuem pelagem preta. Estima-se que a região do Parque Nacional Grande Sertão Veredas tenha uma das maiores proporções de onças pretas, ou melânicas, do mundo. Apesar da cor do pelo ser diferente, que ocorre devido a uma mutação genética, as onças com pelos escuros são da mesma espécie que as pintadas. “Não é possível ver a olho nu, mas as pintas estão embaixo da pelagem negra”, comenta Fragoso.
Recentemente, foi concluída a 5ª fase do projeto com publicação, nas redes sociais, de imagens captadas pelas armadilhas fotográficas. A principal atração dessa etapa foi o nascimento de filhotes trigêmeos de uma onça-pintada que vive na região do Parque. Segundo Fragoso, a mãe dos filhotes é acompanhada pela Onçafari desde que nasceu em 2019.
Isolamento
Uma das primeiras conclusões do projeto é que esses bichos permanecem somente nas áreas do cerrado nativo. De acordo com Fragoso, o desmatamento na região é uma grande ameaça. Ele informa que, pelas imagens de satélite, dá pra ver nitidamente que o cerrado natural está se tornando uma ilha em meio a pastos e lavouras. “As onças-pintadas não andam nas lavouras nem nas pastagens. Elas não saem do cerrado”, comenta o biólogo.

Foto: Divulgação/Onçafari
Confinadas em um espaço cada vez menor, as onças passam a conviver e a cruzar com animais da mesma família. Esse isolamento genético causa doenças consanguíneas e problemas na reprodução, com consequências para a preservação da espécie. Daí, a importância da proteção da mata nativa com corredores ecológicos, cuja proposta é a circulação livre das onças por territórios de grandes extensões, onde elas poderão encontrar outras populações da mesma espécie.

Foto: Divulgação/Onçafari
Caçadores
Outra grande ameaça é a presença de caçadores, que matam onças e animais menores que são presas dos felinos. “Sem as presas naturais, as onças podem recorrer a animais de criação na região, como o gado, gerando conflito com os moradores”, informa o biólogo.
Os pesquisadores também estão aplicando questionários nas comunidades tradicionais do entorno do Parque para saber mais sobre os principais conflitos entre a população da região e as onças. Em um ano de projeto, já foram aplicados cerca de 80 questionários e a proposta é chegar a um total de 100. O conteúdo extraído das respostas ajudará a complementar as ações educacionais ambientais que são realizadas com as comunidades locais.
Com informações do Ministério Público de Minas Gerais