O governo de Donald Trump demitiu o último negociador climático dos Estados Unidos no início deste mês, ajudando a consolidar a retirada dos EUA da diplomacia climática internacional.

A eliminação do Escritório de Mudanças Globais do Departamento de Estado, que representa o país nas negociações sobre mudanças climáticas entre nações, deixa os EUA sem presença oficial em uma das cúpulas climáticas mais importantes da última década: a COP30, a reunião anual da ONU sobre o clima que acontecerá em Belém, no Brasil, em novembro.

Sem a equipe climática do Departamento de Estado, mesmo os parlamentares americanos que costumam participar das cúpulas não conseguiram obter o credenciamento, segundo uma fonte familiarizada com o processo.

A COP30 pretende ser uma cúpula histórica, definindo a agenda climática global para os próximos 10 anos — uma década absolutamente crucial, à medida que o mundo caminha para níveis de aumento da temperatura cada vez mais catastróficos.

Um dos primeiros atos de Donald Trump no atual mandato como presidente foi retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris — ele também havia tomado essa medida no primeiro mandato.

A eliminação do escritório estatal para o clima é mais um sinal da rejeição radical do governo americano à ação climática.

Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA afirmou que “qualquer trabalho relevante relacionado será gerenciado em outros escritórios do Departamento, conforme apropriado”.

Ele não respondeu diretamente à pergunta da CNN sobre se os EUA enviariam representantes à COP30.

Especialistas temem impacto da ausência dos EUA na COP30

Especialistas temem que a ausência dos Estados Unidos na COP30 possa prejudicar a chamada ambição climática.

Países ricos, incluindo os europeus, podem usar isso como uma “licença para recuar“, avaliou Chiara Martinelli, diretora da Climate Action Network Europe, uma coalizão de organizações sem fins lucrativos voltadas para o clima.

Além disso, as nações mais pobres podem perder a confiança no processo, adicionou Martinelli à CNN.

Harjeet Singh, veterano em negociações da COP e diretor fundador da Fundação Satat Sampada para o Clima, pontuou que os EUA estão “abandonando suas responsabilidades em meio a uma emergência planetária”.

Ele também comentou à CNN que o papel dos EUA nas negociações climáticas sempre foi marcado por contradições. “Eles defenderam a ambição em sua retórica, ao mesmo tempo em que expandiram a extração doméstica de combustíveis fósseis“, ponderou.

Ainda assim, avaliou que a ausência do país cria um “vácuo perigoso”.

Possível vantagem geopolítica para a China

De toda forma, a ausência dos Estados Unidos na COP30 pode significar uma vantagem geopolítica à China, permitindo que o país asiático se posicione como um parceiro global mais confiável e estável, ressaltaram especialistas à CNN.

A China está desenvolvendo energia limpa em ritmo acelerado, enquanto os EUA destroem seus setores eólico e solar e retornam bruscamente aos combustíveis fósseis.

“É provável que a voz da China seja ouvida com mais intensidade (na COP30), já que eles identificaram o crescimento em tecnologias verdes como um pilar fundamental de sua estratégia econômica”, pontuou Joeri Rogelj, cientista climático do Imperial College London.

Em declaração à CNN, o Ministério das Relações Exteriores da China chamou a mudança climática de um “desafio comum enfrentado pela humanidade”.

Nenhum país pode ficar de fora disso, e nenhum país pode ser imune a isso”, afirmou o comunicado.

O porta-voz do Departamento de Estado americano não comentou sobre o que a retirada dos EUA do Acordo de Paris significaria para a China.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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