Aparelho semelhante a um bafômetro pode ser mais um aliado da ciência para o diagnóstico precoce do câncer de estômago, um dos tipos mais frequentes no país. Pesquisadores de São Paulo testam o equipamento desenvolvido em Israel. O estudo com a participação de 300 pessoas deve durar quatro meses. As análises são feitas por médicos do Hospital AC Camargo Center, referência no tratamento da enfermidade.

Especialistas da Letônia, Ucrânia, Colômbia e Chile também avaliam o instrumento no qual o paciente enche o pulmão de ar e dá um sopro. Por meio da respiração, o bafômetro rastreia uma espécie de “pegada química” deixada pelas células do estômago, explica o coordenador do estudo e biólogo molecular do Centro Internacional de Pesquisas do hospital, Emmanuel Dias Neto.  

“Elas liberam moléculas que soltam líquidos e gases, chamados de compostos orgânicos voláteis, como fenóis, álcool, gorduras e açúcares. Comparadas com as células saudáveis, as tumorais liberam compostos diferentes que são identificados pelo aparelho”. Até o momento, amostras de 45 voluntários foram coletadas. “Nesta etapa, avaliamos dois grupos, os que estão fazendo endoscopia gástrica por queixas ou suspeita de alguma condição mais grave, ou para simples avaliação, e pessoas com câncer já diagnosticado”. 

Detecção precoce 

Segundo Dias Neto, o aparelho tem precisão de aproximadamente 90% na detecção dos tumores. Caso os estudos atestem a efetividade do aparelho, médicos afirma que há viabilidade para disponibilizar na rede pública devido ao baixo custo do exame. A descoberta precoce aumenta a chance de um tratamento bem-sucedido. No Brasil, a doença é o terceiro tipo mais frequente entre os homens e o quinto entre as mulheres. Só neste ano, a estimativa é de 20 mil novos casos do câncer de pulmão, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). 

Novo equipamento não substitui atual endoscopia 

O aparelho não substitui o atual exame para detecção desses tumores, a endoscopia digestiva alta, mas apresenta vantagens. “A intenção é que ele seja usado em uma grande quantidade de pessoas e, quem sabe, detectar aquelas que podem ter uma doença ainda assintomática, altamente curável, e com isso, aumentar o sucesso do tratamento”, diz. 

Além disso, o processo padrão é longo e tem custo alto, uma vez que são necessários profissionais especializados, desde o endoscopista até um patologista oncológico.  A maioria das pessoas que passa pelo exame geralmente tem problemas leves, e os pesquisadores acreditam que o uso do aparelho pode facilitar o diagnóstico e diminuir os custos, principalmente no Sistema Único de Saúde (SUS). A próxima etapa do estudo é expandir o diagnóstico para outros tipos de tumores e até mesmo algumas doenças. 

Fonte: Vivian Chagas/Matéria especial para o Hoje em Dia 

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