A inadimplência no pagamento de aluguéis no Brasil registrou em junho o maior patamar dos últimos 12 meses, atingindo 3,59%, de acordo com o Índice de Inadimplência Locatícia da Superlógica, plataforma de soluções tecnológicas para os setores condominial e imobiliário. O número representa a terceira alta consecutiva.

A situação é ainda mais crítica em alguns segmentos: imóveis residenciais com aluguel até R$ 1.000, por exemplo, bateram recorde de inadimplência, com 5,79%, e os comerciais da mesma faixa atingiram 7,48% – maior taxa já registrada pelo índice, criado em outubro de 2023.

O levantamento mostra que a região Nordeste registrou a maior taxa do Brasil, com 4,8% de inadimplência, enquanto o Norte ficou em 4,09%, seguido por Centro-Oeste (3,78%), Sudeste (3,38%) e Sul (3,17%).

Entre os tipos de imóvel, apartamentos tiveram inadimplência de 2,47%, casas subiram para 3,96% e os imóveis comerciais alcançaram 4,91%, todos com aumento na comparação com maio.
As faixas de aluguel também revelam extremos com maior risco.

Os imóveis residenciais com aluguel acima de R$ 13 mil, considerados de alto padrão, continuam em alta desde junho de 2024, com uma taxa de inadimplência de 6,54%. Já os alugados por R$ 2.000 a R$ 3.000 apresentaram a menor taxa de inadimplência do mês, de 2,17%.

Para Manoel Gonçalves, diretor de negócios para imobiliárias da Superlógica, no topo, há uma falsa sensação de segurança, e não se exigem garantias como seguro-fiança. Já os imóveis mais baratos, especialmente comerciais, são os mais vulneráveis à instabilidade econômica.

O estudo é baseado na análise de dados anonimizados (que não permitem a identificação do titular) de mais de 900 mil locatários em todo o país, e considera inadimplente o inquilino com boletos vencidos ou pagos com mais de 60 dias de atraso.

A combinação entre inflação persistente, juros elevados e endividamento das famílias ajuda a explicar a tendência de alta.
Segundo Gonçalves, o aumento consecutivo da inadimplência locatícia reforma que as famílias e os pequenos empreendedores enfrentam orçamentos apertados, especialmente em um contexto de crédito mais restrito.

É bem importante monitorar as projeções de alta na inflação e nas taxas de juros, por serem fatores que podem agravar ainda mais a inadimplência de aluguel e o endividamento geral nos próximos meses“, afirma o especialista.

Segundo a plataforma, com a perspectiva de manutenção das taxas de juros em níveis elevados e o orçamento doméstico ainda pressionado, o cenário para o segundo semestre de 2025 exige cautela.

Diante desse cenário de inadimplência em alta, imobiliárias em diversas regiões do país têm apostado em uma combinação de análise de crédito mais criteriosa, programas de proteção ao proprietário e renegociação facilitada com os inquilinos inadimplentes.

Na cidade de Sorriso, no interior do Mato Grosso, a Foco Negócios Imobiliários desenvolveu um programa que assegura ao proprietário o recebimento integral do aluguel, mesmo que o inquilino atrase ou deixe de pagar. Em alguns casos, o benefício cobre até três meses de inadimplência.

Segundo Tiago Borba, CEO da Foco, além de reduzir o impacto financeiro imediato, a iniciativa evita o desgaste com o locatário e ajuda a reter o proprietário na carteira da imobiliária. “O que hoje é estratégico diante da escassez de imóveis disponíveis para locação“, diz.

Ele afirma ainda que avaliar cuidadosamente o histórico do inquilino – incluindo taxa de inadimplência passada e rendimentos – antes da assinatura do contrato faz toda a diferença para o locador.

Outro movimento observado no setor é a ampliação dos prazos de negociação para os inquilinos inadimplentes. Com a intermediação das imobiliárias, muitos débitos passaram a ser parcelados diretamente por meio do cartão de crédito, com planos que chegam a até 21 vezes.

Na prática, as imobiliárias – compram – a dívida que antes era diretamente devida ao proprietário, o que dá fôlego ao inquilino e preserva o relacionamento entre as partes“, afirma Borba.

Ele diz que mais de 85% das renegociações são resolvidas de forma administrativa, sem precisar acionar a Justiça.

 

Fonte: O Tempo

 

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