O Brasil está produzindo menos leite. De acordo com informativo da Federação da Agricultura e Pecuária (Faemg), no último trimestre de 2022 houve uma queda de 5,6% na captação formal de leite em Minas Gerais, quando comparado ao mesmo período de 2021. Ao longo de 2022, o volume total captado no Brasil foi de 23,8 bilhões de litros e 4,2 bilhões em Minas, o que representa uma redução respectivamente, de 5,5% e 6,8% em relação ao ano anterior, segundo dados do IBGE.
“É o pior índice de captação dos últimos três anos”, afirma o presidente da Comissão Técnica de Pecuária da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (FAEMG) e um dos diretores do Conseleite-MG, Jônadan Ma. Ele atribui o fato ao aumento dos custos de produção desde a pandemia, à queda no preço do produto pago pelos laticínios; à redução do rebanho nacional e substituição da atividade de pecuária leiteira pela atividade agrícola, especialmente a produção de grãos.
Custo de Produção recuou um pouco
O mesmo relatório aponta um leve recuo nos custos de produção de 0,2%, reflexo, segundo o presidente da Comissão, da redução nos preços dos fertilizantes, que impactou diretamente no grupo “Volumosos” (silagem de milho, cana de açúcar, pastagem) e que possui uma alta participação nos custos de produção.
Importações aumentaram 260%
Como se não bastasse, 2023 iniciou com patamares elevados de volume de leite importado pelo Brasil. Em janeiro e fevereiro de 2023, as importações sofreram aumento de 2,7% em relação a dezembro 2022, totalizando 151,6 milhões de litros importados ao mês e um expressivo aumento de 260% quando comparado a fevereiro de 2022.
“Os últimos meses apontam recordes de importação em relação aos anos anteriores, demonstrando que a produção brasileira, agravada pela redução na captação dos últimos doze meses, não está sendo suficiente para atender a demanda interna”, disse Jônadan.
A consequência é que preço do leite e derivados (leite em pó, soro de leite) ao consumidor aumentou 5,6% esse ano acima da inflação.
Apesar desse cenário, o presidente da Comissão, que também é pecuarista de leite, acredita que algumas medidas do governo – como o Bolsa-Família e o aumento do salário mínimo – devem corrigir essa oscilação nos próximos meses. Outra aposta do especialista é na profissionalização cada vez maior dos produtores: “quanto mais eles se profissionalizarem e buscarem formas de reduzir custos, como por exemplo, utilizando a estratégia das compras coletivas, melhor será para todos os elos da cadeia. Todos sairão ganhando”.
Outro ponto positivo, na avaliação dele, é a consolidação do Conseleite, como importante ferramenta de previsibilidade no valor de referência para o preço do leite. Segundo ele, a conquista foi possibilitada por uma revisão na metodologia de cálculo, numa atualização nos custos de produção tanto do produtor, quanto da indústria e ajustes técnicos relacionados ao período de levantamento dos dados de comercialização dos produtos da cesta láctea pelas indústrias.
“Esses ajustes possibilitaram uma maior assertividade e uma excelente aderência com a expectativa do mercado. Penso que em breve o Conseleite se tornará a mais importante ferramenta científica com o fim a que se propõe”, disse Jônadan.
Para quem não sabe, Conseleite-MG é um conselho paritário formado por representantes da indústria e dos produtores rurais com o objetivo de buscar, mensalmente, um valor de referência no valor a ser pago ao produtor pelo litro de leite. A metodologia de cálculo foi desenvolvida e é acompanhada por pesquisadores da Universidade do Paraná.
Jônadan lembra que esse valor de referência era um anseio antigo dos produtores que só ficavam sabendo quanto iam receber pelo leite que estava entregando um mês depois, o que dificultava bastante seu cálculo de custos, lucro e investimentos. “O Conseleite melhora a relação entre produtores e indústria, minimiza conflitos e ajuda todos os envolvidos a se organizarem melhor”.
Caravana pelo interior do estado
Segundo ele, o Sistema Faemg/Senar com o apoio da Ocemg e do Silemg, deverá iniciar uma caravana pelo interior do Estado, por meio dos dez escritórios regionais do Senar com o objetivo de divulgar o que é o Conseleite, sua metodologia e como acessar seus dados.
Fonte: Itatiaia