Em mensagens enviadas à família durante a campanha eleitoral de 2022, o tenente-coronel Mauro Cid expressou um temor recorrente: a prisão caso Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retornasse à presidência do Brasil.
Em novos áudios obtidos e divulgados nesta sexta-feira (23) pelo site UOL, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) também defendia com veemência e lealdade o então presidente e cogitava até mesmo fugir do país para evitar ir para a cadeia
Durante as conversas, Cid tentou convencer parentes a votarem em Bolsonaro, alegando que a vitória do PT significaria perseguição política. Segundo ele, seria apenas uma questão de tempo até que fosse detido injustamente. “Se eu não sair do Brasil ou fugir ou alguma coisa, eu vou ser preso”, afirmou em tom alarmista. “Nem o Exército vai conseguir me proteger.”
O militar, que viria a ser preso em maio de 2023, também minimizou erros do governo Bolsonaro, especialmente na condução da pandemia. Em um dos áudios, disse que o Brasil foi um dos primeiros países a investir no desenvolvimento de vacinas – informação que contradiz os fatos e ignora os atrasos na aquisição de imunizantes sob ordem direta do ex-presidente.
Bolsonaro como exemplo de simplicidade
Cid ainda exaltou o estilo de vida de Bolsonaro, narrando um episódio em que o presidente teria se recusado a jantar em um restaurante caro na Suíça. “Ele paga tudo do bolso, nunca usou o cartão corporativo”, disse, descrevendo o ex-presidente como um homem simples, em contraste com a narrativa construída sobre privilégios e gastos durante o governo.
“E ele paga, onde ele vai, restaurante tudo, ele que paga. A conta deu 150 dólares. Ele chegou no hotel esbravejando, falou ‘Cid eu não quero comer nesse lugar nunca mais na minha vida. Eu não vou gastar dinheiro com esses troços. Absurdo’. A gente fica sem saber né. ‘Cid, onde a segurança tá comendo?’. Num bandejão. ‘Então é lá que eu vou’. Aí foi“, disse.
Áudios revelam desespero pré-eleição
O conteúdo dos áudios, extraído de mais de 20 mil arquivos e 158 mil mensagens no celular de Cid, mostra um quadro de crescente tensão. “Eu sei que vou ser preso sem ter culpa nenhuma”, disse à familiar. “Eu vou servir de bode expiatório.”
Segundo o UOL, boa parte do material permaneceu sob sigilo até o avanço das investigações da Polícia Federal. A defesa de Cid informou que ainda não teve acesso completo ao conteúdo extraído.
Delação e reviravolta no caso
Preso inicialmente por fraudes em certificados de vacinação, Cid tornou-se figura-chave na investigação de tentativa de golpe após a derrota de Bolsonaro nas urnas. Em setembro de 2023, acuado pelas investigações e diante de acusações envolvendo também o desvio de joias públicas, fechou acordo de delação premiada com a PF.
Seus depoimentos incriminaram diretamente o ex-presidente, revelando que Bolsonaro discutiu um plano de ruptura institucional com os comandantes militares após perder a eleição. As informações prestadas por Cid embasaram a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), que tornou Bolsonaro réu por tentativa de golpe, entre outros crimes.
Fonte: Hédio Ferreira Júnior – O Tempo