A combinação entre pandemia do novo coronavírus – enfim reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) – e ausência, até o momento, de iniciativas fiscais contracíclicas nos Estados Unidos (EUA) colocou os ativos em Nova York e no Brasil em nova espiral negativa ontem. Os dois fatores resultaram num inusitado acionamento do chamado circuit breaker (a trava que faz o mercado financeiro parar de operar durante meia hora para proteger as ações negociadas) pela segunda vez na semana na bolsa brasileira, a B3, quando o Ibovespa, índice dos papéis mais negociados, apontava perda de 10,11%, aos 82.887,24 pontos.

Na retomada dos negócios, meia hora depois, o índice seguia em queda forte embora fora dos dois dígitos no fechamento aos 85 171,13 pontos. O recuo foi de 7,64%, estendendo as perdas da semana a 13,09%, as do mês a 18,24% e as do ano a 26,35%. O nível de fechamento de ontem foi o menor desde 26 de dezembro de 2018, quando o índice estava em 85.136,11 pontos.

Desde o fechamento anterior à quarta-feira de cinzas (aos 113 681,42 naquela sexta-feira, 21 de fevereiro), as perdas acumuladas pelo Ibovespa chegam agora a 28.510,29 pontos, refletindo a forte correção que se impôs no período posterior ao carnaval, com o alastramento do novo coronavírus.

Na sessão dessa quarta-feira (11), o giro financeiro totalizou R$34,2 bilhões, mais fraco do que na sessão anterior, quando havia ficado em R$40 bilhões após ter chegado a R$43,9 bilhões na segunda-feira, o maior do período pós-carnaval. Após o circuit breaker, por volta das 15h53, a B3 informou ter elevado o limite de oscilação diária do Ibovespa futuro, de 10% para 12,5%. Com a progressão dos negócios, as perdas do índice à vista se estendiam à casa de 12%, mas, após renovação de mínima a 80 795,50 pontos, passaram a ser limitadas a partir das 16h30, com o Ibovespa futuro tendo chegado a 80.540 pontos no limite de baixa.

Na segunda-feira (9), o Ibovespa teve queda de 12,17%, para subir no dia seguinte 7,14%, antes de voltar a mergulhar hoje 7,64%, com dois circuit breakers na mesma semana, algo que não ocorria desde outubro de 2008, durante a crise global. O movimento reflete a acentuada volatilidade que tem prevalecido no período posterior ao carnaval e que se acentuou nas últimas sessões, com ajustes que têm se mostrado mais amplos do que os observados em Nova York.

Ainda ontem, os índices da bolsa americana fecharam o dia com perdas entre 4,7% e 5,8%, com o Dow Jones tendo fechado hoje em “bear market”, definido como uma perda de ao menos 20% em relação a sua máxima mais recente.

Indefinições

“O petróleo tem muito peso no mercado acionário e isso ajuda a entender a ampliação das variações observadas no Ibovespa desde a decisão da Arábia Saudita, no fim de semana, de ampliar a produção da commodity, diz Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset. Ontem, a ação Petrobras PN fechou em baixa de 9,74% e a ON de 10,84%. Outra gigante das commodities, a mineradora Vale viu seus papéis fecharem em baixa de 9,08%.

Na ponta negativa do Ibovespa, duas das ações mais pressionadas pelo coronavírus, pela escalada do dólar e pelo efeito direto sobre as viagens, especialmente internacionais, foram as da Azul, que cedeu 16,39%, e da Gol, que recuou 14,57%.

“Há muitos investidores novos na bolsa, vivendo a primeira crise de confiança. Nem seria educado falar em irracionalidade, tendo em vista os riscos tangíveis em momento em que a atividade econômica é colocada em dúvida, com sucessivas revisões para baixo das projeções”, diz Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.

“O mal-estar veio de fora mais uma vez, transmitido hoje (ontem) a partir das ADRs, que acentuaram perdas em movimento que acabou sendo replicado aqui. Não há definição do que o governo dos EUA fará, e aqui não há agenda que não seja a das reformas”, diz Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença.

Crescimento menor

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) diminuiu mais uma vez sua projeção para o crescimento global do Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto da produção de bens e serviços do mundo) de 2020. Há um mês, a entidade havia feito um leve ajuste em sua estimativa para este ano, de 3,1% para 3%. Agora, cortou a taxa para 2,4%. “Após um crescimento econômico consideravelmente mais fraco no Japão, na zona do euro e na Índia no segundo semestre de 2019, os desenvolvimentos relacionados ao COVID-19 exigiram uma revisão descendente da previsão de crescimento do PIB para 2020”, argumentou a entidade que tem sede em Viena por meio de seu relatório mensal divulgado nesta quarta-feira.

De isenção vai de impostos a taxas

O Reino Unido vai adotar medidas de estímulo fiscal no total de 30 bilhões de libras para combater os efeitos da pandemia do coronavírus, como parte de seu projeto orçamentário, anunciou ontem o ministro de Finanças do país, Rishi Sunak.

Os incentivos fiscais, que representam um dos pacotes mais abrangentes “de qualquer parte”, preveem injeção de capital de 2 bilhões de libras para 700 mil pequenas empresas, isenção de impostos para negócios nas áreas de recreação, lazer e varejista e a eliminação de determinadas taxas para lojas, cinemas e restaurantes.

Ecoando o que havia dito mais cedo o presidente do Banco da Inglaterra (BoE, pela sigla em inglês), Mark Carney, Sunak previu que o impacto do coronavírus na economia britânica será significativo, mas temporário. “Nossa capacidade produtiva vai encolher por um período”, disse o ministro.
Mais cedo, o BoE anunciou corte extraordinário de 0,50 ponto percentual em sua taxa básica, para 0,25%. O plano também prevê a cobertura de custos com afastamento por doença de empresas com menos de 250 funcionários e injetará 500 milhões de libras no sistema previdenciário.

Sunak disse ainda que a resposta do governo britânico ao coronavírus será “temporária, oportuna e coordenada”. Embora o Reino Unido conte com uma economia robusta e finanças saudáveis, o governo fará o que for necessário para sustentá-la, acrescentou. Sunak afirmou também que o governo britânico vai gastar 600 bilhões de libras nos próximos cinco anos e que os investimentos públicos atingirão o nível mais alto desde 1955.

Fonte:Estado de Minas

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