Três deputados federais de Minas Gerais destinaram, entre 2022 e 2024, quase R$ 8 milhões em emendas parlamentares ao Instituto Terra e Trabalho (ITT), entidade que se tornou alvo da Operação Sem Desconto, da Polícia Federal. A investigação apura desvios e deduções indevidas em benefícios do INSS e já levou à prisão do presidente do instituto. Dos parlamentares envolvidos, apenas Euclydes Pettersen é investigado formalmente até o momento.
Os repasses ao ITT somam ao menos R$ 7,7 milhões, enviados por Euclydes Pettersen (Republicanos-MG), Eros Biondini (PL-MG) e Ana Paula Leão (PP-MG). Além deles, uma emenda coletiva da bancada mineira, no valor de R$ 285 mil em 2024, também foi destinada ao instituto.
Pettersen indicou R$ 2,5 milhões em duas ocasiões — R$ 1,5 milhão em 2022 e R$ 1 milhão em 2023 valores totalmente pagos. Biondini destinou R$ 5 milhões em 2024, a maior quantia individual, também empenhada e paga. Ana Paula Leão encaminhou R$ 477,5 mil em 2024.
O presidente do ITT, Vinícius Ramos da Cruz, foi preso preventivamente na quinta-feira (13). Ele é cunhado de Carlos Roberto Ferreira Lopes, presidente da Conafer e apontado como líder do esquema que desviou recursos do INSS. Segundo a PF, o instituto operava como peça-chave para lavar dinheiro, recebendo milhões e repassando-os a empresas de fachada.
A investigação aponta que a Conafer recebeu R$ 708 milhões do INSS desde o início do convênio, dos quais R$ 637 milhões cerca de 90% foram desviados para contas de operadores financeiros e empresas fictícias. A Operação Sem Desconto cumpriu mandados em 63 endereços de 15 estados e resultou em 10 prisões. Pedro Alves Corrêa Neto, ex-secretário do Ministério da Agricultura, liberava recursos públicos ao ITT e, em troca, recebeu mais de R$ 1 milhão em propina, segundo a PF. Ele não foi preso, mas cumpre medidas cautelares, incluindo o uso de tornozeleira eletrônica.
Embora todos os parlamentares tenham destinado recursos ao instituto, apenas Pettersen é investigado pela Polícia Federal. De acordo com a corporação, ele teria recebido ao menos R$ 14,7 milhões em propina para garantir proteção política ao esquema. Nas planilhas de pagamentos da Conafer, o deputado era identificado pelo apelido “Herói E” e, segundo a PF, era o mais bem remunerado do grupo. Os pagamentos eram feitos por meio de repasses fracionados para empresas ligadas ao parlamentar, coincidindo com liberações de lotes do INSS à Conafer.
Em troca, Pettersen teria atuado para impedir investigações contra a entidade e facilitar o acesso de seu presidente a autoridades responsáveis por indicações à Presidência do INSS.
Os três deputados se manifestaram sobre o caso. Pettersen afirmou estar à disposição das autoridades e destacou que já foi absolvido em investigações anteriores. Biondini disse que avaliou o projeto do ITT como apoio técnico a pequenos produtores e que, ao saber das suspeitas, tentou cancelar a emenda e acionou TCU, CGU e MPF. Ana Paula Leão informou que destinou recursos focados na promoção dos produtores rurais e pediu ao Ministério da Agricultura a suspensão de qualquer pagamento ao instituto após o avanço das investigações.
A destinação de recursos ao Instituto Terra e Trabalho por três deputados mineiros amplia o alcance da Operação Sem Desconto e reforça os desdobramentos políticos do esquema que desviou centenas de milhões do INSS. Enquanto apenas Euclydes Pettersen figura como investigado formalmente, outros parlamentares podem ser convocados pela CPMI do Senado para prestar esclarecimentos. As investigações seguem em curso, com o ITT apontado como parte central da engrenagem financeira que sustentou um dos maiores esquemas de desvios já identificados na Previdência Social.
Com informações do O Fator










