Pesquisadores registraram nesta semana um raro grupo de dezenas de tubarões-galha-preta nadando em águas rasas da Baía da Ilha Grande, em Angra dos Reis, na Costa Verde do Rio de Janeiro. As imagens foram feitas na segunda (12) e terça-feira (13), na Enseada de Piraquara de Fora, dentro da Estação Ecológica de Tamoios -área de proteção integral.

O avistamento reforça os dados de um estudo publicado na semana passada na revista científica Aquatic Conservation, que documenta, pela primeira vez, a ocorrência sistemática e sazonal desses tubarões na região. Desde 2016, pesquisadores observam o comportamento das espécies Carcharhinus limbatus e Carcharhinus brevipinna, ambas conhecidas pelo nome popular galha-preta, devido às pontas escuras nas nadadeiras.

Estamos diante de um evento raro e relevante para a conservação dos tubarões costeiros no Atlântico Sul. É importante destacar que a presença desses animais não representa risco para os banhistas“, afirma Fernanda Rolim, pesquisadora da USP e uma das autoras do estudo.

Os autores identificaram picos de concentração entre maio e agosto, com até 113 tubarões registrados em um único trecho da enseada. O novo artigo é fruto de uma parceria entre o projeto Tubarões da Baía da Ilha Grande e o Ibracon (Instituto Brasileiro de Conservação da Natureza), com participação de universidades como UFRRJ, USP e Unifesp, e apoio do Instituto Mar Urbano.

Segundo os pesquisadores, a presença recorrente dos tubarões pode estar ligada à busca por águas mais quentes durante o outono e o inverno. Parte dos animais avistados eram fêmeas grávidas, o que sugere que a enseada pode funcionar como área de reprodução. Temperaturas elevadas favorecem tanto o desenvolvimento embrionário quanto a digestão, podendo inclusive encurtar o tempo de gestação.

A abundância de presas, como tainhas, também contribui para a escolha da área como ponto de alimentação. “Temos observado um padrão consistente de retorno desses tubarões à mesma região, ano após ano. Isso indica que a enseada pode ter uma função ecológica importante e previsível, o que reforça seu potencial como área prioritária para conservação”, explica Leonardo Mitrano Neves, coordenador científico do projeto.

O reconhecimento dessa importância ecológica chegou também no plano internacional. Na semana passada, a Enseada de Piraquara de Fora foi incluída oficialmente na lista das Áreas Importantes para Tubarões e Raias (ISRAs, na sigla em inglês), elaborada pela União Internacional para a Conservação da Natureza.

Com a nova classificação, os pesquisadores propõem a ampliação da área protegida, especialmente durante os meses de inverno, quando a concentração de tubarões é maior.

“Trata-se de uma região de grande biodiversidade, onde o turismo de mergulho é forte e o ecossistema depende de espécies-chave, como os tubarões. Garantir a conservação desses predadores é essencial para manter o equilíbrio dos ambientes marinhos”, afirma Nathan Lagares, do Instituto Mar Urbano.

Segundo ele, a aproximação de tubarões a pessoas é extremamente rara, já que os animais percebem a presença humana com antecedência e costumam evitar o contato. “As melhores imagens que conseguimos são feitas de cima. Dificilmente eles se aproximam das câmeras, mesmo com isca”, afirma.

Caso um banhista se depare com um tubarão, a recomendação é não fazer movimentos bruscos, evitar tentar tocar o animal e manter a calma. “Se agir como uma presa, com agitação, ele pode se sentir instigado a investigar. Mas, em geral, esses animais não se aproximam de humanos, porque somos uma presença invasora no ambiente deles“, diz Lagares.

A pesca predatória e a degradação dos habitats são as principais ameaças às espécies de galha-preta, hoje consideradas ameaçadas de extinção. Para os cientistas, o monitoramento contínuo das agregações e a proteção reforçada da área são passos fundamentais para garantir a sobrevivência dos tubarões na costa brasileira.

 

Fonte: ALÉXIA SOUSA-Estado de Minas

 

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