Uma jovem relatou, sob condição de anonimato, que teve fotos e vídeos íntimos divulgados na internet, sem autorização, por uma pessoa com a qual ela se relacionava apenas na rede.

“Eu vivi um pesadelo. Era refém de um homem que eu não conhecia e no qual errei em confiar. Eu passei pelo constrangimento de expor minha intimidade para milhões de pessoas, e isso ninguém apaga”.

Já solucionado pela Polícia Civil de Minas, que prendeu o suspeito, o caso dela revela detalhes de sadismo e falsa sensação de impunidade por um crime cada vez mais comum no Estado. Apenas em 2021, a corporação registrou 320 casos de divulgação de imagens de estupro, nudez, sexo ou pornografia sem consentimento da vítima, 281% a mais que em 2019, quando houve 84 queixas.

Na Delegacia Especializada em Investigação de Crimes Cibernéticos, em Belo Horizonte, onde esses casos são registrados, o perfil das vítimas é geralmente o mesmo: jovens mulheres que confiaram em ex-companheiros e conhecidos na internet, segundo a delegada Naira Rajab Bassul.

“Na maioria das vezes, essas imagens são divulgadas por pessoas próximas, companheiros, ex-namorados e até mesmo algum ficante. Isso é o que a gente chama de ‘revenge porn’ (pornografia da vingança) e acontece quando tem um término tumultuado, quando uma das partes não aceita o fim do relacionamento”, detalha a delegada.

Foi o que ocorreu com a BBB Natália Deodato, 22, que teve um vídeo íntimo vazado durante seu confinamento no programa. Apesar de o crime ainda estar sendo investigado pela Polícia Civil, a principal suspeita é que um ex-companheiro da modelo e designer de unhas tenha sido o responsável pela divulgação das imagens.

Invasão preocupa

De acordo com a delegada Naira, uma preocupação crescente entre as autoridades é a invasão de celulares e computadores que resultam no acesso a imagens íntimas, armazenadas pelas próprias vítimas.

“Muitas vezes, a pessoa está nas redes sociais ou no WhatsApp e clica em algum link malicioso, a que nós chamamos de ‘fishing’, e aí o invasor tem acesso ao conteúdo do aparelho celular da vítima, dando início a extorsões, pedindo dinheiro”, revela. A policial acrescentou que, muitas vezes, a vítima se submete a situações humilhantes para que as imagens não sejam divulgadas pelo criminoso. 

Fazer a denúncia é fundamental, alerta polícia

Apesar do constrangimento sofrido por ter imagens íntimas divulgadas, é fundamental que a vítima procure a polícia para registrar a ocorrência. Apenas assim o caso vai ser apurado, e os responsáveis, punidos. “O que recomendamos é que elas (as vítimas) procurem uma delegacia mais próxima para fazer o registro dessa ocorrência para que a situação não passe impune”, aconselha o delegado Eduardo Hilbert Martins, responsável pela prisão do suspeito de divulgar, sem consentimento da vítima, imagens íntimas da jovem ouvida pela reportagem. O policial prevê que, com a repercussão do caso dela, outras vítimas do mesmo homem podem surgir. 

Ele disse que, caso as vítimas fiquem desconfortáveis para relatar o crime na delegacia, uma policial mulher pode registrar a ocorrência. 

PRESO POR EXTORQUIR MULHERES

Mães solo, com idades entre 18 e 25 anos, escolhidas em páginas de divulgação de perfis, de lojas de roupas ou de conhecidos no Instagram. Estas eram as características das vítimas de um homem de 32 anos preso pela Civil no mês passado, suspeito de usar perfis falsos na rede social para extorquir mulheres em troca de imagens íntimas, muitas em situações constrangedoras. A prisão foi divulgada ontem.

Até a publicação desta reportagem, a corporação havia identificado quatro vítimas do detido, entre elas a que abre esta reportagem e denunciou o crime em julho. “Em dois casos, ele chegou a pagar, como prometido. Mas, depois, começava a extorsão”, relatou o delegado Eduardo Hilbert Martins.
Morador de BH, o suspeito foi preso na região Nordeste da cidade, em uma sede da Galoucura – torcida organizada da qual ele é diretor. 

ARMAS APREENDIDAS

Durante o cumprimento do mandado de busca e apreensão, mídias, um revólver calibre 38 e celulares foram localizados na casa do suspeito. Na delegacia, ele confessou o crime e admitiu que pode haver mais vítimas. O homem deve ser indiciado por extorsão, divulgação de imagens íntimas sem autorização e posse ilegal de arma.

A organizada informou, em nota, que tomou conhecimento das acusações ao diretor e que não compactua com o comportamento do suspeito, que foi retirado das funções que exercia.

EM ALTA 

Divulgação de cenas de estupro e imagens de nudez, sexo ou pornografia 
Minas Gerais: 
2019 – 84 registros
2020 – 318 registros
2021 – 320 registros – Aumento de 281% (2019 x 2021) 
 
Belo Horizonte: 
2019 – 8 registros
2020 – 46 registros
2021 – 42 registros – Aumento de 425% (2019 x 2021) 

COMO SE PREVENIR 

  •  Evite deixar fotos e vídeos íntimos armazenados na memória do celular ou na nuvem ;
  •  Não compartilhe esse tipo de imagem, mesmo com conhecidos ou companheiros ;
  •  Reforce a senha do celular  ;
  •  Adote a verificação de duas etapas para o login nas redes sociais ;
  • Fuja de links maliciosos que apresentem algum tipo de conteúdo suspeito. Eles podem facilitar o acesso de invasores ao celular ou ao computador

CRIME E PENA 

Divulgar, sem o consentimento da vítima, foto ou vídeo que contenha cena de estupro ou de sexo é crime. 
A pena prevista é de reclusão por um a cinco anos. O tempo de pena pode ser aumentado de um a dois terços se o crime for praticado por pessoa que tenha tido relação com a vítima ou com o fim de vingança ou humilhação. 

Fonte: O Tempo

 

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