As doenças cardiovasculares estão retornando ao topo do ranking de mortes por patologias no Brasil. Após a Covid-19 perder força em virtude da ampla vacinação, doenças do coração, como por exemplo, o infarto e o AVC, voltaram a figurar entre as principais causas de mortalidade no país.
De acordo com dados do Portal de Transparência dos Cartórios de Registro Civil do Brasil, no período de 1º de janeiro a 1º de agosto de 2022, o coronavírus provocou a morte de 54.841 pessoas. No mesmo intervalo de oito meses, o AVC fez 64.976 vítimas e o infarto, 60.600.
As doenças cardiovasculares são prevalentes no mundo todo. Segundo o cardiologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, Bruno Ramos, desde a década de 1960, essas patologias estão entre as principais causas de morte no Brasil. Mas, durante os principais picos da Covid-19 (em meados de 2020, também a partir de março/abril de 2021 e no final de 2021/início de 2022), as mortes por doenças do coração foram superadas pelas provocadas pelo coronavírus.
“Neste período aconteceu também o que a gente chama de causa competitiva de óbito, ou seja, pacientes que tinham mais fatores de riscos cardiovasculares e idade mais avançada, apresentaram maior chance de falecimento. Então, pessoas que naturalmente, no futuro, faleceriam de doenças cardiovasculares acabaram morrendo precocemente pela Covid”, explicou Bruno.
Um fator destacado pelo médico para o aumento expressivo no número de óbitos derivados de doenças cardiovasculares é o que ele chama de “efeito tardio da pandemia”. Durante as fases mais graves da período pandêmico houve a competição por leitos e isso ocasionou a disputa pelo espaço de cuidados.
“Muitas vezes, a pessoa não tinha acesso aos hospitais para o tratamento das doenças cardiovasculares, especialmente das patologias agudas, como infarto e AVC, porque os leitos estavam todos ocupados por pacientes com Covid. Já outros pacientes perderam o controle e acompanhamento das doenças por receio de ir até os hospitais e contrair o vírus”, destacou o cardiologista.
Bruno destaca ainda que os resultados da falta desse cuidado necessário já está refletindo no número de mortes. “A descompensação desses quadros começa a aparecer agora. Pessoas que ficaram durante dois ou três anos sem tratamento e medicação adequados, passam a ter riscos maiores de mortalidade”, evidenciou o médico.
Fonte: O Tempo