A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga o rombo bilionário no INSS passou a apurar o envolvimento de mais dois deputados federais de Minas Gerais. O presidente da comissão, senador Carlos Viana (Podemos-MG), confirmou que os parlamentares aparecem nas quebras de sigilo por movimentações financeiras suspeitas ligadas a entidades já investigadas pela CPMI e pela Polícia Federal.
Segundo Viana, três nomes de Minas Gerais surgiram nas apurações: um deles já é alvo de operação da Polícia Federal, e os outros dois seguem sob sigilo até que seja delimitado o grau de responsabilidade de cada um. O senador reforçou que as quebras de sigilo vêm revelando conexões entre parlamentares e entidades envolvidas no esquema, mas lembrou que o foro privilegiado pode restringir a obrigatoriedade de depoimentos à comissão. A Advocacia do Senado analisa o assunto.
No total, as investigações alcançam 27 parlamentares três senadores e 24 deputados federais de 17 estados. O esquema desviou mais de R$ 6 bilhões do INSS e atravessou três governos: Michel Temer, Jair Bolsonaro e Lula. De acordo com Viana, entidades sindicais e associações descontavam mensalidades de aposentados e pensionistas sem autorização dos beneficiários, contando com o apoio de servidores corrompidos e com proteção política que manteve o mecanismo ativo por anos.
A operação ganhou novo fôlego na última quinta-feira, quando o presidente do INSS no início do governo Lula, Alessandro Stefanutto, foi preso, e o ex-ministro da Previdência no governo Bolsonaro, José Carlos Oliveira, foi alvo da Polícia Federal. Para o senador, a sobrevivência do esquema entre diferentes administrações ocorreu porque servidores indicados politicamente permaneciam nos cargos que davam sustentação às fraudes.
A CPMI, instalada em agosto, atua em duas frentes: a primeira, praticamente concluída, apura os descontos associativos irregulares; a segunda investigará empréstimos consignados fraudulentos. A comissão já celebrou uma delação premiada e negocia outra. A próxima etapa, prevista para fevereiro de 2026, investigará a atuação dos bancos responsáveis pelos pagamentos. O relatório final está previsto para março de 2026, mas o prazo pode ser prorrogado.
As investigações mostram que o núcleo do esquema funcionava a partir de Brasília e se espalhou por vários estados, como Sergipe, Ceará, Maranhão, Pará e Amazonas, ampliando a rede de associações envolvidas. A estrutura contava com federações e sindicatos ligados a organizações nacionais, como a Contag. Em Minas Gerais, documentos e ações judiciais apontam a participação da Fetaemg e de cerca de 540 sindicatos, que descontavam cerca de 2% dos benefícios sem autorização dos aposentados.
Segundo Viana, o escândalo persistiu apesar de alertas da Controladoria-Geral da União sobre fragilidades nas autorizações. A exposição do caso pela CPMI, afirma o senador, acelerou medidas do governo federal para reembolsar aposentados e responsabilizar envolvidos. Em julho, a União iniciou os ressarcimentos, que já alcançam cerca de 2,5 milhões de beneficiários, com R$ 3,3 bilhões reservados para pagamentos. A CPMI também aprovou projeto que proíbe descontos associativos diretamente nos benefícios do INSS.
Com novas linhas de investigação abertas e o avanço das quebras de sigilo, a CPMI do INSS amplia o alcance do escândalo e pressiona por responsabilização política e criminal. Para o senador Carlos Viana, a mobilização da comissão e a divulgação do caso permitiram avanços no ressarcimento aos aposentados e na interrupção do esquema. As apurações continuam, e a comissão pode estender seus trabalhos para aprofundar o rastreamento de envolvidos em um dos maiores desvios já registrados na Previdência Social.
Com informações do Estado de Minas










