O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), disse estar preocupado com um possível impacto negativo das doações aos gaúchos vítimas das enchentes. Ele afirmou temer danos ao comércio e ainda pediu que brasileiros direcionem ajuda aos empresários do Estado.
As declarações foram dadas à rádio BandNews FM, na terça-feira (14), e têm repercutindo negativamente nas redes sociais, com milhares de críticas e questionamentos a Leite. Até a mais recente publicação desta reportagem, ele não havia se manifestado novamente.
“Um dos pontos que pedi à nossa equipe é que ajude a estruturar na medida do possível ferramentas e canais para que aquelas pessoas de outros locais que queiram fazer doações possam fazê-las ajudando o comércio local que está impactado”, disse o governador à BandNews FM.
“Porque, na verdade, quando você tem um número tão grande de doações físicas chegando ao Estado, há um receio, pelo que já observamos em outras situações, sobre o impacto que isso terá no comércio local. Você tem uma cidade que foi impactada, um comércio que foi impactado, e o reerguimento desse comércio fica dificultado na medida em que você tem uma série de itens que estão vindo também de outros lugares do país”, completou.
O governador disse ainda que não queria ser entendido como alguém que está desprezando as doações. “Pelo contrário. Mas inclusive isso, também, gera uma preocupação aqui pra nós sobre o impacto no comércio local do Rio Grande do Sul. E acho que há caminhos que a tecnologia proporciona para que a gente encontre à disposição das pessoas de doar e ajudar com a necessidade local dos pequenos comerciantes, enfim, de buscar e se reerguer, de forma que todos estejam atendidos”, encerrou Leite.
Conforme o mais recente balanço, divulgado na manhã desta quarta-feira (15), 149 morreram nas enchentes que assolam o Rio Grande do Sul há duas semanas. Ainda há 112 desaparecidos e 806 feridos. O número de pessoas fora de casa é de 617,7 mil, sendo 79,4 mil em abrigos e 538,2 mil desalojados (em casa de amigos e parentes).
Câmara aprova perdão da dívida do RS com a União
A Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira o projeto que suspende os pagamentos de 36 parcelas mensais da dívida do Rio Grande do Sul com a União para o dinheiro ser aplicado em ações de enfrentamento da situação de calamidade pública provocada pelas chuvas nas últimas semanas.
O texto-base do projeto foi aprovado com 404 votos a favor e apenas dois contrários, de Stélio Dener (Republicanos-RR) e Eros Biondini (PL-MG). A matéria será enviada ao Senado, onde também precisa da aprovação da maioria para ser sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
De autoria do Poder Executivo, o Projeto de Lei Complementar 85/24 foi relatado pelo deputado Afonso Motta (PDT-RS), que fez pequenos ajustes na redação original. Segundo a proposta do governo federal, nos próximos três anos, os juros que incidem sobre o estoque da dívida serão reduzidos a 0%.
A dívida do Rio Grande do Sul com a União é estimada em cerca de R$ 98 bilhões. Com a suspensão do pagamento das parcelas, o Estado poderá direcionar cerca de R$ 11 bilhões, nesses três anos, para as ações de reconstrução em vez de pagar a dívida nesse período.
Embora o texto tenha surgido para esta situação específica das enchentes, a mudança beneficiará qualquer unidade da Federação em estado de calamidade pública futuro decorrente de eventos climáticos extremos após reconhecimento pelo Congresso Nacional por meio de proposta do Executivo federal.
Lula volta ao RS para anunciar novas medidas de socorro
Lula volta ao Rio Grande do Sul nesta quarta-feira para anunciar, em São Leopoldo (RS), novas medidas de socorro ao Estado assolado pelas enchentes iniciadas há duas semanas. Esta será a terceira visita do petista, desde então.
Na comitiva, que embarcou às 8h10 em Brasília nesta quarta-feira, estarão ministros, como Rui Costa (Casa Civil), Fernando Haddad (Fazenda), Nísia Trindade (Saúde), Jader Filho (Cidades), Renan Filho (Transportes), Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional) e Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação da Presidência).
Na ocasião, Lula deve confirmar Paulo Pimenta no cargo de ministro extraordinário que atuará na articulação para a reconstrução do Rio Grande do Sul. A ideia é que o representante presidencial atue de forma permanente no Estado enquanto durar a calamidade pública, coordenando uma estrutura administrativa das ações federais na região.
Governo federal faz força-tarefa para socorrer o RS
Desde a primeira visita de Lula ao Rio Grande do Sul em função das enchentes, o governo federal deslocou para o Estado uma força-tarefa que envolve mais de 25 mil profissionais. Entre as funções, o salvamento e resgate de pessoas e animais, a ajuda no restabelecimento de serviços e infraestruturas danificadas, o acolhimento de desabrigados e desalojados e a logística para levar mais de 2 mil toneladas de donativos via Correios e Força Aérea Brasileira (FAB) em menos de 10 dias.
No plano da recuperação econômica, o Governo Federal já fez três grandes anúncios. Confira abaixo:
- Primeiro, de mais de R$ 50 bilhões em antecipações de pagamento de programas sociais como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada, a prioridade para os gaúchos na restituição do Imposto de Renda e novos aportes no seguro-desemprego. O anúncio também incluiu linhas especiais de crédito para setores produtivos.
- No último sábado (11), uma Medida Provisória de R$ 12,5 bilhões abriu crédito para várias áreas do governo federal e garantiu a sequência dos trabalhos federais no Estado. A MP também contempla medidas já anunciadas referentes a linhas de crédito (FGI, FGO, Pronampe e Pronaf/Pronamp), às medidas de apoio à segurança alimentar (Programa de Aquisição de Alimentos e cestas básicas), abrigamento e parcela extra do SUAS, parcelas extras do seguro desemprego, serviços para a saúde primária, especializada e vigilância epidemiológica, assistência farmacêutica e contratação temporária de profissionais e também para a importação de 100 mil toneladas de arroz.
- Na segunda-feira (13), o governo federal anunciou a suspensão por três anos da dívida que o RS tem com a União, liberando R$ 11 bilhões para um fundo para a reconstrução do estado. Além disso, R$ 12 bilhões referentes a juros do estoque total da dívida serão perdoados. As medidas foram dispostas em projeto de lei complementar encaminhado ao Congresso Nacional pelo presidente Lula.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, anunciou nesta terça-feira (14) que, nas próximas semanas, o governo federal abrirá uma seleção de projetos específica para o Rio Grande do Sul.
O processo de seleção deve ocorrer por meio do Novo PAC, que na última semana anunciou investimentos da ordem de R$ 1,4 bilhão para o estado gaúcho, sendo R$ 152 milhões para obras de encostas em Porto Alegre e Santa Maria.
Todos os municípios gaúchos poderão solicitar ao Governo Federal a reconstrução de edificações públicas, como hospitais, creches e escolas que foram destruídas pelas chuvas dos últimos 15 dias.
MDS mandará 52 mil cestas básicas
Segundo a atualização desta terça-feira, do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), das 52 mil cestas adquiridas num primeiro momento à população, 19,8 mil já foram entregues na Unidade Armazenadora da Conab em Canoas (RS).
Outras 5,5 mil toneladas estão em trânsito e mais de 12,2 toneladas já foram distribuídas. Ao menos mais 95 mil cestas serão adquiridas com recursos da MP publicada no sábado. Além disso, será adquirido arroz e feijão por meio do Programa de Aquisição de Alimentos para distribuição às cozinhas solidárias e famílias afetadas.
Cada cesta tem 21,5kg de alimentos e é composta de oito itens: arroz (10 kg), feijão carioca (3 kg), leite em pó integral instantâneo (2 kg), óleo de soja (900 ml), farinha de trigo (1 kg) ou farinha de mandioca (1kg), macarrão espaguete comum (1 kg), fubá de milho (1 kg), açúcar cristal (1 kg), sardinha em óleo comestível (500 g) e sal refinado e iodado (1 kg).
Fonte: O Tempo