Participante da nova temporada de “Casamento às Cegas”, reality show da Netflix, a advogada Renata Giaffredo, de 33 anos, foi assunto constante nas últimas semanas nas redes sociais. Dividindo opiniões entre o público devido às suas falas durante o programa, ela também chamou a atenção por conta do posicionamento perante os relacionamentos. Com um estilo de vida que define como caro, ela pontua que seria difícil se relacionar com alguém que estivesse em uma situação financeira pior que a dela. A preocupação com a questão econômica, durante a escolha de um parceiro, também ficou evidente num bate-papo da advogada com outro participante do reality. Tanto que o trecho em que ela questiona o homem sobre seus bens, carros e viagens no exterior também viralizou nas redes sociais.

Embora o comportamento de Renata tenha sido discutido – e, em alguns casos, até mesmo condenado –, essa preferência por pessoas com status econômico superior tem nome: hipergamia. E, segundo o jornal britânico “The Sun”, é uma tendência no Reino Unido. Por aqui, a situação não parece ser diferente, já que sites como Meu Patrocínio – especializado em relacionamentos “sugar”, em que os parceiros oferecem apoio financeiro e outros benefícios a seus companheiros – acumulam quase 16 milhões de usuários.

Foi, inclusive, a esse site que a bacharela em direito Sofia*, de 26 anos, recorreu quando buscava um novo relacionamento. À época, com 19 anos, ela tinha sido traída pelo seu primeiro namorado e, como sempre preferiu homens mais velhos, encontrou na plataforma uma oportunidade de conhecer pessoas que a atraíam.

“Comecei a conhecer pessoas legais até que, com 21 anos, tive um relacionamento com um empresário da minha cidade. Ele era 20 anos mais velho e me ajudou muito. Comecei a valorizar isso e a realmente me atrair por homens pela parte financeira, e não mais pela aparência ou outras características”, conta.

Ela lembra que os dois ficaram juntos por dois anos e que, durante o período, o companheiro a ajudou a trocar de carro, além de pagar pelo cartão de crédito e sempre a tratar “como uma princesa”. Apesar de o relacionamento não ter durado mais tempo, ele foi o ponto de partida para que Sofia entendesse sua preferência. Hoje, ela diz que até mesmo a parte sexual é motivada pela questão financeira. “Só consigo ter tesão quando a pessoa tem uma condição financeira boa. O cara pode ser lindo, mas se ele não tiver um carro, uma empresa ou um dinheiro legal, não consigo me relacionar sexualmente, beijar ou coisas do tipo”, confessa ela. “Às vezes eu até me questiono; acho um pouco bizarro, mas para mim é algo bom, porque sempre sou tratada bem por essas pessoas”, diz.

Além da importância do bom tratamento, como apontado por Sofia, outras questões também podem estar por trás da hipergamia. Segundo a psicóloga Vanessa Teixeira, nesse tipo de relacionamento, o dinheiro também vem representando outras coisas. “Não é como a imagem do Tio Patinhas, que guardava o dinheiro e contava todo dia. Nesses relacionamentos, o dinheiro transforma a realidade, aquilo que a pessoa supõe que, com ele, vai torná-la mais feliz, mais importante, mais amada, mais destacada socialmente ou mais bonita”, lista.

Ela observa ainda que o dinheiro também pode ser visto como uma forma de contabilizar a quantidade de amor. “Às vezes podemos pensar por um viés de que, quando você tenta quantificar a relação amorosa, parece ficar mais palpável a quantidade de amor que você recebe a partir da grana. Acaba virando uma conta de satisfação: quando mais ele me der; quanto mais eu conseguir; quanto mais cara for a casa, o carro; quanto mais luxuosas as festas; mais valiosas as joias; mais amor eu tenho e recebo”, afirma.

Especialista em relacionamentos do site Meu Patrocínio, Caio Bittencourt aponta também que um relacionamento em que o dinheiro deixa de ser um problema também pode representar mais segurança. “Aqui no Brasil, o número de divórcios cresceu nos últimos cinco anos, e, em mais da metade dos casos, a causa são problemas financeiros. A partir do momento que o dinheiro é excluído dessa problemática, o relacionamento tem muito mais chance de dar certo”.

Hipergamia ainda é julgada

Apesar de representar apenas uma das tantas formas de se relacionar com outras pessoas, a hipergamia ainda é alvo de julgamentos. Não por acaso, falas como a da participante de “Casamento às Cegas” acabam sendo pauta de discussões nas redes sociais. “Nossa sociedade ainda é muito hipócrita. Ainda que a gente tenha a busca pelo dinheiro incentivada, a prosperidade exaltada, quando alguém escancara essa lógica, não queremos enxergar. Vem o moralismo em cima disso e uma expectativa de que as relações sejam amorosas, como se o amor fosse algo transcendental, belo, lindo. Mas as relações são de troca, você ganha, perde, faz concessões”, ressalta a psicóloga Vanessa Teixeira.

Ela ainda observa que, por trás do julgamento a esse tipo de relação – principalmente em discursos que colocam as pessoas como aproveitadoras ou interesseiras –, se escondem outros tipos de preconceito. “Existe um discurso muito forte da mulher aproveitadora, inclusive em casos de estupro envolvendo celebridades, em que a justificativa apontada é a de que a vítima queria se aproveitar. É um machismo estrutural gigantesco. E existe também um etarismo enorme, quando, por exemplo, um homem ou uma mulher mais jovem se interessam por alguém mais velho, e (pensam que) só podem estar interessados na grana”, pontua. “As relações se dão com quem topa entrar nelas, e os sujeitos têm variados jeitos e motivos para se atrair uns pelos outros”, conclui.

Fonte: O Tempo

 

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