Estudantes e professores de duas escolas femininas no norte do Afeganistão foram hospitalizados com sintomas respiratórios e neurológicos nesse fim de semana. Autoridades locais suspeitam que as instituições tenham sido envenenadas. Ao todo, 89 alunas, entre 6 e 12 anos, foram atingidas. As informações são do The New York Times.
No último sábado (3), 63 alunas e funcionários da escola primária Kabod Aab School, no norte do país, passaram mal logo após chegarem às salas de aula. Por volta das 8h, duas crianças começaram a ter convulsões e a ter dificuldade de respirar. Acreditando ser algum tipo de gripe, o administrador da instituição mandou as meninas para casa. Porém, apenas vinte minutos depois, dezenas de pessoas apresentavam os mesmos sintomas.
No dia seguinte, domingo (4), outras 26 estudantes, além dos funcionários da Escola Feminina Faiz Abad, também adoeceram.
Os sintomas de todos os hospitalizados foram semelhantes: falta de ar, fraqueza, náuseas e dores de cabeça. Segundo os parentes das vítimas, muitos foram colocados em ventiladores. Nessa segunda-feira (5), cerca de metade dos internados tiveram alta e as escolas permaneceram fechadas, enquanto autoridades realizam as investigações.
Suspeitos
De acordo com as autoridades afegãs, os envenenamentos foram motivados por uma briga entre aldeias da região. Porém, moradores disseram não acreditar nesta versão.
Em entrevista ao The New York Times, Umair Sarpuli, diretor de cultura e informação da província de Sar-i-Pul, afirmou: “Pessoas desconhecidas espalharam substâncias venenosas nas salas de aula e, quando os alunos entraram nas salas, sentiram falta de ar, olhos e nariz lacrimejantes e perderam a consciência”.
Ainda segundo as autoridades, forças de segurança e inteligência estão à procura do autor do crime.
Proibidas de estudar
Desde a volta do grupo fundamentalista Talibã ao poder, em 2021, meninas afegãs, acima da sexta série, foram proibidas de frequentar a escola. As aulas só são permitidas para alunas do primário, justamente a idade das vítimas de envenenamento, que têm entre 6 e 12 anos.
O envenenamento em escolas primárias abalou os pais e as meninas do país. Aos poucos, o Talibã restringiu o direito das mulheres à educação e à participação na vida pública. Em março de 2022, o governo proibiu as meninas de frequentar o ensino médio e, em novembro, proibiu as mulheres de frequentar a universidade.
As mulheres também foram proibidas de frequentarem academias e parques, de viajarem por longas distâncias sem um parente do sexo masculino, e de trabalharem na maior parte do setor público e na saúde.
Desde a volta do Talibã ao poder, muitos pais temem que pessoas que se opõem à educação de meninas se sintam livres para agir contra as alunas. Eles têm medo de que novos ataques às escolas possam acontecer.
“Todo mundo está com medo, e deveríamos estar com medo porque o envenenamento dos alunos é grave”, disse Hassan Haidari, pai de uma professora atingida. A mulher está em estado grave, e ligada a um respirador.
“As pessoas querem saber quem fez isso para garantir que não aconteça novamente”, disse Haidari. “Caso contrário, ninguém vai mandar a filha para a escola.”
Escolas femininas já foram envenenadas no passado
O Afeganistão vive episódios de envenenamento de escolas femininas há mais de uma década. O governo anterior, apoiado pelos Estados Unidos, responsabilizava o Talibã pelos ataques. O grupo negava a autoria.
Em 2012, cerca de 300 meninas adoeceram na província de Takhar, no norte do país. Em 2013, outras 200 foram envenenadas na capital, Cabul. Em 2016, outro grande caso: 600 alunas foram atacadas com um gás tóxico.
No inicio deste ano, episódios parecidos aconteceram no Irã. O país entendeu os ataques como uma forma de impedir a meninas de frequentar a escola.
Fonte: Itatiaia