Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD) e da Universidade de Maryland revelou uma vulnerabilidade crítica nas comunicações por satélite utilizadas em todo o mundo. Após uma investigação de três anos, os especialistas constataram que grande parte da comunicação via satélite é transmitida sem criptografia, tornando-se facilmente acessível a interceptações por hackers.

Sistema barato, acesso perigoso

Utilizando equipamentos de baixo custo e de fácil acesso comercial, os pesquisadores montaram um sistema receptor capaz de interceptar sinais de satélites geoestacionários. O aparato incluía uma antena parabólica de US$ 185, um suporte motorizado de US$ 140 e uma placa sintonizadora de US$ 230. Ao apontar o equipamento para os satélites visíveis, foi possível captar fluxos de comunicação não protegidos, sem necessidade de qualquer invasão sofisticada.

Durante o período de estudo, os especialistas conseguiram interceptar um volume significativo de informações confidenciais, incluindo:

  • Chamadas e mensagens de texto de clientes de telefonia;
  • Dados de navegação Wi-Fi de passageiros de voos comerciais;
  • Mensagens internas de empresas de energia e plataformas de petróleo e gás;
  • E até comunicações militares de agências dos Estados Unidos e do México.

A equipe estima que metade de todos os sinais de satélites geoestacionários está vulnerável à espionagem digital.

A exposição das informações se dá, principalmente, pela forma como empresas de telecomunicação utilizam satélites para conectar torres de celular e redes corporativas. Segundo o estudo, essas conexões intermediárias — especialmente as que não possuem criptografia — podem ser interceptadas com relativa facilidade, mesmo sem violar sistemas ou senhas. Bastava “ouvir” os dados que eram transmitidos livremente pelos satélites.

Em entrevista à revista Wired, o professor da UCSD e co-líder da pesquisa, Aaron Schulman, afirmou que os resultados foram alarmantes, já que boa parte da infraestrutura global depende dessas comunicações. Segundo ele, havia uma falsa sensação de segurança baseada na suposição de que ninguém “olharia para cima” — ou seja, ninguém se preocuparia em verificar os satélites. Essa ideia, inclusive, inspirou o nome da apresentação do estudo: “Não Olhe para Cima”, referência ao filme da Netflix de 2021.

Eles presumiram que ninguém jamais verificaria e escanearia todos esses satélites para ver o que havia lá fora. Esse era o método de segurança deles.” – Aaron Schulman, em entrevista à Wired

Vazamento de dados militares e governamentais

Entre os casos mais graves registrados, estão vazamentos de dados militares e estratégicos:

  • Embarcações militares dos Estados Unidos transmitiam tráfego de internet sem proteção, incluindo nomes e identificadores de navios;
  • Agências mexicanas tiveram vazadas informações de inteligência sobre o narcotráfico, registros de manutenção de aeronaves militares e até localizações em tempo real de pessoas e equipamentos;
  • A Comisión Federal de Electricidad (CFE), estatal mexicana com 50 milhões de clientes, também teve comunicações internas interceptadas com facilidade.

A equipe analisou cerca de 15% dos satélites geoestacionários em operação. Mesmo com esse número limitado, foi possível reunir uma quantidade significativa de dados confidenciais, evidenciando a gravidade do problema.

O estudo acende um alerta sobre a fragilidade das comunicações via satélite e a necessidade urgente de criptografar transmissões sensíveis. A descoberta expõe riscos não apenas à privacidade de usuários comuns, mas também à segurança nacional de países. A pesquisa será apresentada em uma conferência da Associação de Máquinas de Computação de Taiwan, reforçando a importância de uma revisão profunda na forma como os dados são enviados por satélite em escala global.

Com informações do Olhar Digital

 

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