A doação de órgãos é uma oportunidade de vida para milhares de pessoas com doenças graves, mas o processo enfrenta diversos obstáculos. No Brasil, cerca de 73 mil pacientes aguardam na fila por um transplante, sendo mais da metade deles à espera de um rim. Um dos maiores desafios é encontrar um doador compatível, especialmente em relação ao tipo sanguíneo. Um novo estudo canadense, publicado nesta sexta-feira (3) na revista Nature Biomedical Engineering, aponta um avanço que pode transformar esse cenário.
Pesquisadores conseguiram converter um rim humano do tipo sanguíneo A para o tipo O, considerado doador universal. O órgão foi transplantado em um paciente com morte cerebral, com o objetivo de estudar a viabilidade da técnica. O rim funcionou por dois dias antes que sinais de rejeição aparecessem — um intervalo considerado significativo, já que a rejeição costuma ser imediata quando há incompatibilidade sanguínea.
A técnica, chamada de ECO, utiliza enzimas — proteínas que aceleram reações químicas — para remover os antígenos das células sanguíneas que causam a rejeição. Ao eliminar esses marcadores, o órgão se torna potencialmente compatível com qualquer receptor, o que pode acelerar o processo de transplante e diminuir o tempo de espera.
“Apenas cerca de 15% da população possui sangue Rh negativo, sendo que o tipo O- representa de 8% a 9%, o que contribui para a escassez frequente desse tipo de sangue até em bancos de sangue e a insistência para que pessoas desta tipagem façam doações frequentes”, explica Fabio Lino, diretor do Serviço de Hemoterapia do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE).
Segundo o bioquímico Stephen Withers, da Universidade de British Columbia, no Canadá, a técnica já foi testada também em pulmões. “O processo ECO já foi experimentado em pulmões. Esperamos que ele funcione para todos os outros órgãos, e deve funcionar pelo que pudemos observar. Os órgãos não serão reconhecidos nem atacados pelos anticorpos anti-A presentes na corrente sanguínea do receptor”, afirmou.
A aplicação da técnica ECO pode representar uma mudança significativa no campo dos transplantes. Atualmente, mais da metade dos pacientes nas listas de espera possuem sangue tipo O, o que os obriga a aguardar de dois a quatro anos a mais por um órgão compatível. Com a conversão de órgãos para o tipo O, considerado universal por não conter antígenos, é possível ampliar a disponibilidade de doadores e oferecer uma nova chance de vida a milhares de pessoas em todo o mundo.
Com informações do Metrópoles