Seis homens e um maquinário usado para extrair ouro são suficientes para provocar um estrago praticamente irreversível na vegetação, poluir cursos d’água e causar doenças à comunidade do entorno. Esses são os riscos apontados pelo ambientalista e professor do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), Daniel Neri, sobre o esquema de garimpo ilegal descoberto no distrito de Furquim, em Mariana, na região Central de Minas Gerais, nessa terça-feira (17). O pesquisador alerta que os garimpeiros ilegais costumam ser forasteiros, que impõem uma exploração intensa dos minerais e abandonam a cidade em seguida, deixando para trás o rastro de destruição.

Em Furquim, a Polícia Ambiental identificou cerca de 1.000 m² de vegetação devastada pelo garimpo. A atividade resultou na abertura de um grande buraco em meio ao verde de uma Área de Preservação Permanente (APP) — espaços importantes para proteger rios, terrenos e “garantir a conservação da natureza”, conforme o Instituto Estadual de Florestas (IEF).

O garimpeiro ilegal é forasteiro, vindo de São Paulo, da Bahia, e utiliza maquinários grandes, como a draga, que escava e aspira os minerais. Eles abrem estradas para transportar as máquinas, desmatam e poluem as águas com muita facilidade. É complicado, porque na região Central está a bacia do Rio Doce, já degradada e com alto teor de ouro”, pondera o pesquisador Neri.

Segundo ele, a principal ameaça ao meio ambiente e à comunidade, quando um esquema ilegal de garimpo se instala, é a poluição provocada pelo uso excessivo de mercúrio. O elemento químico é utilizado para separar o ouro dos demais sedimentos. “O processo de separação é todo feito no local, sem nenhum tipo de laboratório de apoio. O mercúrio é altamente poluente e é descartado nas águas do rio. Ou seja, mata a população de peixes, contamina as plantas ao ser absorvido, adoece a população que consome os peixes e utiliza a terra contaminada, além de prejudicar os próprios trabalhadores que inalam o elemento. É um desastre que afeta toda a cadeia alimentar”, acrescenta o professor.

A cidade de Mariana é marcada por mais de 300 anos de exploração de ouro e outros minerais, seja por empresas regulamentadas ou garimpeiros ilegais. Há, ainda, a prática do artesanato pelos moradores, mas esta última tem impacto ambiental quase nulo. A recuperação dos danos na área de preservação de Furquim, de acordo com Daniel Neri, se ocorrer, não será percebida nas próximas décadas.

É uma recuperação que pode levar de décadas a séculos. Infelizmente, só para a regeneração da mata primária são necessários muitos anos. É bem possível, inclusive, que os garimpeiros ilegais retornem ao local poucos dias após a operação, e a destruição volte a ocorrer”, analisa.

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) informou que “acompanha com atenção as denúncias na região e mantém contato com a Polícia Militar de Meio Ambiente para seguir monitorando a situação”.

Segundo o órgão, os autos provenientes das fiscalizações são encaminhados ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), responsável por conduzir processos cíveis para reparação dos danos causados.

 

Fonte: O Tempo

 

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