O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está hospedado, junto com a primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, e parte de sua comitiva, no barco Iana 3, durante suas agendas em Belém (PA) relacionadas à COP30, conferência do clima da ONU. A embarcação, de grande porte e três pavimentos, funciona como um hotel flutuante e está ancorada na Base Naval de Val-de-Cans.

Segundo informações fornecidas pela Presidência da República à Folha de S.Paulo, o custo diário da embarcação é de R$ 2.647 por pessoa. O contrato, firmado com a empresa Icotur Transporte e Turismo, sediada em Manaus, foi classificado como reservado e permanecerá sob sigilo até o fim do mandato — ou até o término de eventual reeleição de Lula.

Escolha e justificativas da Presidência

A Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) informou que a escolha pelo barco Iana 3 foi baseada em “critérios técnicos de segurança, logística e economicidade”. De acordo com a Secom, a proposta apresentada pela Icotur foi considerada “a mais econômica e adequada” em comparação às opções disponíveis na rede hoteleira convencional de Belém.

Em nota, a Presidência afirmou que “todas as decisões seguem planejamento antecipado, critérios de segurança e transparência” e que a embarcação “atende às especificações necessárias para receber o presidente e sua equipe, operando como um hotel”. O governo declarou ainda ter buscado soluções que garantissem segurança, conforto e cumprimento da legislação vigente.

Sigilo e falta de registros públicos

Apesar das informações básicas divulgadas, o Diário Oficial da União e o Portal da Transparência, mantido pela Controladoria-Geral da União (CGU), não apresentam registros do processo de contratação ou do contrato firmado com a Icotur. Até o momento, não foram informados o modelo do acordo, o valor total, o número de diárias contratadas, os serviços incluídos e as especificações técnicas da embarcação.

O sigilo foi justificado pela Presidência com base em legislação que permite classificar informações como reservadas quando sua divulgação possa colocar em risco a segurança do presidente da República.

Logística e agenda presidencial

Lula está em Belém desde o dia 1º de novembro, cumprindo compromissos que antecedem a cúpula de chefes de Estado e de governo marcada para os dias 6 e 7 de novembro. A COP30 ocorrerá oficialmente de 10 a 21 de novembro.

Na segunda-feira (3), o presidente e a primeira-dama utilizaram o barco para deslocar-se até uma comunidade quilombola em Acará (PA), a cerca de uma hora da capital, acompanhados dos ministros Anielle Franco (Igualdade Racial) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar). O barco é escoltado por embarcações da Marinha e veículos menores responsáveis pela segurança da comitiva.

A decisão de Lula de se hospedar em um barco ocorre em meio a uma escassez de hospedagens em Belém, provocada pela grande demanda gerada pela conferência climática. Até o fim de outubro, o local de estadia presidencial ainda era incerto.

Inicialmente, chegou-se a cogitar o uso de um navio da Marinha, mas a embarcação foi considerada inadequada para atender às necessidades de segurança e conforto do presidente. De acordo com relatos, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, teria testado o navio e considerado o acesso e as instalações insatisfatórios.

No início de outubro, Lula comentou publicamente sua intenção de dispensar um hotel e optar por uma embarcação. “Falei para a Janja: não vou nem para hotel, vou dormir num barco. Enquanto os gringos estiverem dormindo, eu vou estar pescando. Quem sabe eu consigo pegar um filhote, um pirarucu”, disse o presidente, em tom bem-humorado.

A escolha de Lula por um barco-hotel durante a COP30 reflete tanto os desafios logísticos enfrentados por Belém quanto as exigências de segurança impostas à Presidência da República. Embora o governo alegue transparência e critérios técnicos na decisão, a falta de divulgação dos detalhes do contrato e o sigilo dos gastos levantam questionamentos sobre os custos e a gestão dos recursos públicos empregados na hospedagem presidencial.

Com informações da Folha Press

 

COMPARTILHAR: