Algumas montanhas de Marte possuem veios estreitos de água salgada líquida escorrendo em suas encostas, revela um estudo divulgado nessa segunda-feira (28) pela Nasa.
Essas formações, que já haviam sido reveladas antes em imagens do planeta, já eram apontadas como possivelmente originadas de salmouras, mas só agora surgiram evidências diretas do fenômeno.
Linhas que aparecem e somem em montanhas de Marte são formadas por água salgada escorrendo, indica novo estudo da Nasa (Foto: Nasa/JPL/Universidade do Arizona)
Essas “linhas de encosta recorrentes”, tal qual foram batizadas pelos cientistas, são faixas estreitas, com menos de 5 metros de largura, que aparecem durante períodos quentes em diversas regiões de Marte. As linhas se alongam durante algum tempo e depois encolhem.
“Elas são faixas escuras que se formam no fim da primavera, crescem no verão e desaparecem no outono”, afirmou Michael Meyer, chefe do programa de exploração de Marte da Nasa, em entrevista coletiva para apresentar a descoberta.
Cientistas não conseguiam confirmar a natureza do fenômeno, porque a resolução das imagens das melhores sondas no planeta não permitia fazer imagens nítidas de estruturas tão estreitas.
Linhas recorrentes formadas por água salgada na cratera Garni, em Marte (Foto: Nasa/JPL/Universidade do Arizona)
A hipótese de que as linhas observadas eram salmoura líquida saiu das temperaturas registradas no local no verão marciano, acima de -23°C. Água com alta concentração de sal, com ponto de derretimento mais baixo, pode existir na forma líquida nessa faixa de temperatura.
Um grupo de pesquisadores operando a sonda MRO (Mars Reconnaissance Orbiter), porém, desenvolveu um método para contornar o problema das imagens sem resolução. Lujendra Ojha, cientista nepalês do Instituto de Tecnologia da Georgia, e seus colegas conseguiram extrair de imagens com um único pixel os dados espectrais – separação da luz em diferentes frequências – capazes de revelar a composição de substâncias.
As informações obtidas pelos pesquisadores estão de acordo com o espectro de sais minerais hidratados, reforçando a hipótese de que os veios recorrentes são formados com cristais de sal absorvendo umidade marciana. Estão presentes na solução sais de cloro e oxigênio, como cloratos e percloratos, mas não se sabe ainda se essas substâncias captam água da atmosfera ou do solo.
Vida marciana?
A importância da descoberta está sendo realçada pelo que os cientistas escreveram. “Determinar se água líquida existe na superfície marciana é central para a compreensão do ciclo hidrológico e para o potencial da existência de vida em Marte”, esceveu Ojha em estudo publicado na revista “Nature Geoscience”.
Monte no centro da cratera Horowitz com linhas recorrentes em Marte (Foto: Nasa/JPL/Universidade do Arizona)
Ainda que a existência do líquido em Marte seja uma novidade, diz o pesquisador, não é possível dizer ainda que as condições nos córregos de salmoura temporários permitiria a existência de vida. Na Terra, o centro do deserto do Atacama, extremamente árido, é o único lugar parecido com essas condições onde já se viu vida microbiana.
“Se as linhas de encosta recorrentes se formam como resultado da deliquescência [absorção de umidade] de sais percloratos, elas podem fornecer condições úmidas transitórias na superfície de Marte, apesar de a atividade da água nas soluções de perclorato ser baixa demais para sustentar a vida de tipo terrestre.”
A direção da Nasa, porém, foi mais incisiva em destacar a importância da descoberta para a busca de vida fora da Terra. “Isso sugere que é possível que vida exista em Marte hoje“, afirmou John Grunsfeld, diretor de missões científicas, em entrevista coletiva.
A perspectiva de uma eventual viagem tripulada a Marte no futuro também precisa ser recalculada. As linhas d’água sazonais se tornam agora candidatas a visitação tanto pelo interesse em se estudá-las quanto como possível fonte de água para abastecer astronautas.
Redação do Jornal Nova Imprensa