Em 2005, o Brasil se mobilizava para um referendo que tomou conta por meses das rodas de discussões: ter ou não uma arma de fogo? A votação era uma das regras estabelecidas pelo Estatuto do Desarmamento, que previa uma consulta ao eleitor sobre a possibilidade de acabar com o comércio de armas no país.

E foi nesse pleito que o psicólogo Alyson Aguilar atuou pela primeira vez como mesário. Desde então, ele não deixou de participar como voluntário e, passados 17 anos, chega às eleições de 2022 com um sentimento que nunca foi tão acentuado: a preocupação com a segurança na eleição.

Para Aguilar, o cenário polarizado da política no país, que se acentuou de forma profunda nos últimos anos, é um dos principais motivos do receio. “Tenho pensado sobre isso, já que temos visto crimes e até assassinatos em função do atual cenário. E eu moro em uma região de periferia, onde conheço as pessoas, inclusive. Tudo está mais extremo”, conta.

No fim de agosto, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu por unanimidade que o eleitor deve entregar o celular ou qualquer outro aparelho eletrônico, juntamente com o documento de identidade, antes de se dirigir à cabine de votação.

A justificativa é que o equipamento pode comprometer o sigilo do voto – inclusive, em outras eleições, houve denúncias de que bandidos obrigavam a apresentação de vídeos de eleitores comprovando o voto em candidatos indicados pelos criminosos.

Caso ocorra uma recusa em entregar o celular, a Polícia Militar pode ser acionada, e o eleitor é impedido de votar.

O mesário Alyson Aguilar acrescentou que esse é um temor a mais neste ano. “Essa questão do celular não foi bem aceita, sempre houve a orientação de deixar o aparelho. Mas o meu temor é que isso gere grandes problemas, já que o eleitor pode ser impedido de votar. E eu ainda sou presidente de seção”, afirma.

A assistente educacional Lorrana Queiroz também compartilha o sentimento. “Em relação à segurança, não tem como a gente não ter nenhum temor nestas eleições. Mesmo sabendo que vai ter mais inspeção, mais militares nas zonas eleitorais, a gente fica, sim, com uma certa apreensão em relação à nossa integridade e segurança, porque sabemos que essa eleição está muito acalorada”, acrescenta.

Mesária pela quarta vez, Lorrana vê a radicalização política como um grave problema. “As medidas que o TSE decretou são fundamentais para que tenhamos uma eleição mais segura, menos agressiva, mas com reforço da lei da proibição do uso do celular e agora com essa questão de armas, que tivemos muitas ocorrências na última eleição presidencial, vai ser desafiador, como nunca foi antes”, avalia.

Nesta terça-feira (27), o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Alexandre de Moraes, tem reunião com sindicatos para tratar da segurança dos servidores durante a eleição de domingo.

70% pedem reforço no policiamento

Um levantamento realizado pelo Instituto Ideia em maio deste ano revelou que sete a cada dez mesários defendem a adoção de medidas adicionais de segurança na eleição deste ano.

Entre os entrevistados, 75% pedem maior policiamento ou seguranças particulares nas sessões eleitorais, seguido por aumento no número de fiscais (5%). Além disso, 30% revelaram que há um temor em ser atacado durante o trabalho.

As situações mais temidas pelos mesários com relação à segurança são ameaças (58%) e ataques físicos (55%). O mesário Alyson Aguilar afirmou também que um maior número de brigas entre os próprios eleitores, por conta do posicionamento político, também pode acontecer. “Tem o policiamento, mas o efetivo sempre foi muito pequeno, e ainda não sabemos se neste ano terá algum reforço”, pontua.

Fonte: O Tempo

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