A Serva de Deus Isabel Cristina Mrad Campos será beatificada em Barbacena, cidade natal da religiosa, neste sábado (10). Morta a facadas, após se defender de violência sexual, quando tinha 20 anos, a mártir é modelo para os fiéis que recorrem a ela pedindo proteção.
A celebração solene com o rito de beatificação será presidida por Dom Raymundo Damasceno Assis, cardeal emérito de Aparecida (SP), diante da impossibilidade da presença do Prefeito do Dicastério da Causa dos Santos, o cardeal Marcello Semeraro.
“Jovem de fé e que cultivava o amor a Maria”. É assim que o monsenhor Danival Milagres, pároco da Paróquia Nossa Senhora da Piedade, resume a vida da Serva de Deus. Celebrar a beatificação de Isabel Cristina é para ele o reconhecimento das virtudes heróicas vividas por ela. “O modo como defendeu sua dignidade motivada pelos valores da sua fé marca a importância deste momento”, afirma.
“A jovem Isabel Cristina foi muito fiel à educação recebida na família. Os pais dela eram pessoas muito católicas e vicentinos [grupo da Igreja Católica que desenvolve atividades com os mais carentes]. Ela sempre participou da vida da igreja, dos encontros de jovens, da Sociedade São Vicente de Paulo. Teve uma vida normal, assim como as outras meninas, e sonhava em fazer medicina”, conta o monsenhor sobre a vida da futura beata.
Para realizar o sonho de ser médica, Isabel mudou para Juiz de Fora, na Zona da Mata, em 1982, visando realizar um curso pré-vestibular. Em 1º de setembro daquele ano, um homem foi montar um guarda-roupa no apartamento para onde ela se mudou com o irmão, Paulo Roberto, e tentou violentá-la. A jovem resistiu dando uma cadeirada na cabeça, amarrou, amordaçou e rasgou as roupas do agressor. Devido ao enfrentamento, Isabel acabou sendo morta com 15 facadas.
O crime cruel teve grande repercussão e abalou a família e todos que souberam da violência sofrida pela jovem. “Passados 40 anos ainda presenciamos crimes semelhantes contra as mulheres. Enquanto sociedade devemos acordar e elaborar políticas públicas que garantam a defesa da vida das mulheres e promovam a segurança delas. Por trás de uma violência contra a mulher, devemos lembrar, que está o incentivo e a forma perversa que a sociedade estimula para a vivência da sexualidade depravada”, afirma o monsenhor Danival.
‘Momento de muita esperança’
A beatificação de Isabel Cristina é analisada pelo religioso como momento de “muita esperança” para os fiéis da Arquidiocese de Mariana. “Ela vai se tornar, sem dúvida, referência para nossa juventude. O povo está muito empolgado. Diversas equipes empenhadas na organização, muitas pessoas oferecendo seu tempo para serem voluntárias”.
O monsenhor Danival explica que não houve a necessidade de apresentar milagre nesta etapa do processo rumo à canonização. “Em 2020, o Papa Francisco reconheceu o martírio, pois, na beatificação a tese é essa. Temos interesse em continuar o processo. Assim que tivermos o relato de milagre contundente, que tenha como ser provado cientificamente, vamos enviar para Roma e, por lá, a Congregação para a causa dos Santos tem um tribunal para estudar”, comenta.
Os restos mortais da religiosa, atualmente, estão no Santuário Nossa Senhora da Piedade, em Barbacena. “O túmulo dela está de fácil acesso para visita dos fiéis. Todos os dias muitas são as pessoas que passam por ele. As pessoas fazem oferta de rosa e flores. No dia 1º de setembro, data do martírio dela, recebemos muitos fiéis, sobretudo de Juiz de Fora, onde ela foi martirizada”, finaliza o monsenhor.
Fonte: O Tempo