Em um mundo onde abundam informações em tempo real e são divulgadas com frequência pesquisas de intenção de votos, quer registradas na Justiça Eleitoral, quer contratadas por instituições privadas, analistas políticos tentam prever qual Brasil nos espera em 2019.
As previsões sobre os resultados das eleições presidenciais utilizam-se de análises de risco que supõem para o futuro as mesmas condições do passado, permitindo, assim, atribuir um valor probabilístico a cada alternativa possível. No caso das aplicações no mercado de capitais, esses modelos ajudam a estimar um seguro cujo prêmio está diretamente relacionando à probabilidade da ocorrência do evento.
Nas pesquisas eleitorais, admite-se que a situação simulada hoje se repita no dia da eleição. Por exemplo, a metade dos eleitores, que ainda não sabe em quem votar, será distribuída proporcionalmente conforme as intenções de votos da outra metade. Nas condições atuais, isso parece pouco provável de acontecer, uma vez que a rejeição aos políticos é muito grande. É razoável supor que uma parcela maior de eleitores poderá não comparecer às urnas, sendo, assim, temerário estimar qual será o tamanho da abstenção.
O professor Frank Knight, na década de 20 do século passado, já alertava para a diferença entre risco e incerteza. Ao contrário do risco, incerteza está presente na situação em que mudanças tornam imprevisíveis os resultados futuros das ações passadas.
Nesse contexto, para avaliar as possibilidades de resultados nas próximas eleições, vale a pena utilizar o método de análise de estresse, buscando identificar mudanças que levariam ao pior cenário possível em ambiente de incertezas. Concentro, assim, minhas observações nos possíveis impactos de duas situações singulares nas eleições deste ano: um candidato condenado e preso liderando as pesquisas simuladas e o presidente da República, com altíssima rejeição, sendo investigado pela Polícia Federal.
Do lado do PT, a aprovação de Lula na convenção do partido forçará o TSE a julgar, de imediato, o registro de sua candidatura. Qualquer que seja a decisão, haverá recursos que poderão garantir a candidatura por liminar ou mantê-la em desobediência civil. Ademais, com a posse do ministro Dias Toffoli na presidência do STF em setembro, a revisão da prisão após a condenação em segunda instância poderá entrar na pauta, ainda antes das eleições. Se aprovada, será criada uma situação inusitada: o candidato líder das pesquisas estará livre da prisão, mas provavelmente inelegível pela legislação eleitoral.
Do lado da situação, que se autodenomina “centro”, as incertezas são muitas. O presidente Temer poderá sofrer outro pedido de investigação e tornar ainda mais frágil a governabilidade do país na reta final da campanha eleitoral. Arrastado pelo turbilhão das águas da corrupção, Temer foi incapaz de obter o reconhecimento da população pelos bons resultados na economia. Ao contrário, contaminou negativamente a agenda de reformas e os candidatos dos partidos que, direta ou indiretamente, lhe dão apoio. Nenhum deles consegue ser lembrado significativamente nas pesquisas espontâneas. Uma candidatura de centro, se nascer, virá estigmatizada pelo nefasto e notório centrão.
Três candidatos parecem ainda sobreviver neste cenário de estresse: Bolsonaro, Ciro e Marina. Por fim, o futuro é de imprevisibilidade. Poderemos dormir sonhando com o maravilhoso mundo novo de Aldous Huxley e acordar assombrados pelo inferno de Dante.

 

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