De Marley & Eu a Sempre ao Seu Lado, passando pelo recente Caramelo, filmes que retratam a relação entre humanos e cães têm um efeito quase imediato sobre o público: emoção à flor da pele e muitas lágrimas. Mas o que há por trás dessa conexão tão profunda com histórias de lealdade, reencontros e despedidas envolvendo cachorros?
Segundo o veterinário e doutor em psicologia social Edilberto Martinez, a resposta está tanto na biologia quanto na emoção. “Os cães desenvolveram expressões e comportamentos que lembram os de crianças. Por isso, muitas pessoas liberam ocitocina, o ‘hormônio do amor’, da mesma forma que o fariam ao ver um bebê”, afirma.
Martinez explica que os cachorros simbolizam valores universais como lealdade, amor incondicional e pureza emocional — elementos que despertam empatia imediata no espectador. “Não é por acaso que os cães são chamados de ‘melhor amigo do homem’”, destaca o especialista.
A relação entre humanos e cães, conforme o veterinário, é fruto de uma longa história de convivência. Ele lembra que a domesticação dos cães foi essencial para o surgimento das primeiras civilizações. “Essa parceria permitiu que grupos familiares se fixassem em um lugar, com maior proteção e segurança”, explica.
Além disso, os cães aprenderam a observar atentamente o comportamento humano. Eles reconhecem expressões faciais, respondem a emoções e até percebem mudanças hormonais associadas ao estresse ou à alegria. Desde filhotes, desenvolvem laços afetivos com os tutores, o que reforça a percepção de que “entendem tudo”, mesmo sem falar.
Para Edilberto, é justamente essa conexão emocional que torna tão impactantes as cenas de separação, perda ou reencontro retratadas no cinema. “Essas histórias ativam o mesmo sistema de apego que regula relações profundas, como entre pais e filhos. Por isso, comovem tanto”, observa.
As lágrimas que escorrem durante filmes com cães não são apenas resultado da ficção, mas refletem experiências pessoais de saudade, perda e afeto. “Essas histórias funcionam como espelhos emocionais. Os cachorros nas telas nos permitem acessar memórias afetivas profundas e, muitas vezes, dolorosas”, diz Martinez.
Ainda segundo o especialista, o impacto dessas narrativas vai além da emoção momentânea. Muitas vezes, elas inspiram atitudes reais de cuidado com os animais, como adoções e reflexões sobre posse responsável. No entanto, ele alerta: “É preciso ter cuidado com idealizações. Nem toda convivência com animais é como no cinema, e adotar exige responsabilidade e consciência.”
Em suma, a forte reação emocional diante de filmes com cães é resultado de uma combinação de fatores biológicos, históricos e afetivos — um elo construído ao longo de milênios, que continua emocionando dentro e fora das telas.
Com informações do Metrópoles